O Fim da Jornada – Quando Desistir É Também Jogar
Às vezes, o maior desafio não está em derrotar demônios no inferno, mas em reconhecer que o jogo perdeu a alma — e que é hora de ir embora.
Capítulo 1: Quando o Jogo Vira Trabalho
Era meio que previsto — e de fato, aconteceu. Eu abandonei a temporada de Diablo IV.
Por mais que tentasse resistir, alguma coisa ali já havia se quebrado. A Blizzard fez mudanças que destruíram aquilo que era essencial: a diversão. A jornada de temporada deixou de ser aventura e virou tarefa. E pior: uma tarefa sem alma. Entre o fim do Suplício III e o começo do Suplício IV, a sensação era de arrasto. O que antes era descanso, agora era desgaste.
Fiz um segundo personagem, tentando racionalizar: talvez fosse a classe errada. Talvez fosse só cansaço de uma build. Mas não. O jogo, simplesmente, já não me pegava mais. As metas me cansavam. A interface me entediava. E o conteúdo, por mais amplo que fosse, parecia cada vez mais vazio.
“Tudo que é feito sem alma se torna peso, mesmo que antes fosse paixão.”
– Diário de um jogador cansado
Capítulo 2: A Saudade do que Não Cansa
Foi inevitável a comparação. Lembrei dos velhos tempos de Diablo III. Em especial no Nintendo Switch — plataforma onde acumulei mais de mil horas. E isso sem contar as passagens pelo PlayStation 3 e pelo PC. Naqueles dias, as jornadas de temporada eram terapêuticas. Entrar, desligar o mundo, clicar sem parar e rir do caos. Era simples. Era prazeroso. Era videogame.
O que era para ser refúgio, virou obrigação. E essa quebra, esse desalinhamento, me deixou à deriva. Passei um tempo vagando. Precisava encontrar algo. Não um substituto, mas uma lembrança do que fazia tudo isso valer a pena.
“Não é o jogo que te segura. É a lembrança de quando ele fazia sentido.”
– Fragmento de mim mesmo, entre sessões interrompidas
Capítulo 3: Shaolin, o Cúmplice do Cansaço
Meu amigo Shaolin veio comigo. Fomos parceiros no Diablo III, e tentamos repetir a dose no IV. Mas logo percebemos — e sem precisar dizer muita coisa — que algo não encaixava. A gente tentava se empolgar, tentava rir, tentava repetir os rituais de sempre. Mas a energia não vinha. O jogo estava ali, nós também... mas a conexão havia se perdido.
É estranho como o multiplayer pode amplificar tanto a alegria quanto a decepção. Estar acompanhado, às vezes, não basta. E quando ambos estão desanimados, o silêncio entre uma dungeon e outra começa a dizer mais do que qualquer mensagem de voz.
A gente parou. Não houve declaração formal, nem desinstalação dramática. Só deixamos de entrar. E esse silêncio, de certa forma, foi o luto do jogador.
Capítulo 4: Conquistas que Nascem do Passado
Foi aí que, num desses acasos digitais, eu tropecei em algo curioso: um hub de conquistas. Comecei a revisitar minhas contas — PSN, Steam, Epic, GOG, Google Play, Nintendo... Tudo reunido. Uma vitrine do que joguei, do que ignorei, do que esqueci. Percebi que, apesar de tantos sistemas, a maior parte da minha história está mesmo no Nintendo Switch — onde não há conquistas registradas, mas memórias reais.
Curiosamente, o Xbox, mesmo presente fisicamente, é um vazio virtual. Nunca ativei, nunca criei gamertag, nunca deixei rastros. Sempre foi offline, silencioso. Uma metáfora quase poética de como alguns jogos existem só para nós, fora da lógica de conquistas ou testemunhas.
4.1 – PSN: O console que ficou para trás
Comprei meu PlayStation 3 em 2013. Era um momento de recomeço, e o PS3 chegou com a promessa de novos mundos. Mas a vida — como tantas vezes faz — me desviou da trilha. No fim de 2014, me mudei de cidade, e com isso, o PS3 ficou para trás. Levei comigo apenas o Wii U e o 3DS. O PS3 ficou como um símbolo de uma fase inacabada. Alguns jogos chegaram a ser explorados, outros só iniciados com a promessa de "um dia eu volto". Um dia que nunca chegou. Hoje, ao olhar meu histórico na PSN, vejo rastros dessa ausência. Vestígios de um tempo que não se concluiu. E ainda assim, isso também é história.
“Há jogos que não zeramos — mas que nos dizem algo só por terem sido iniciados.”
– Arquivo sentimental da PSN
4.2 – Google Play: A surpresa escondida no bolso
Jamais imaginei que a Google Play guardasse conquistas. Mas lá estavam elas. Poucas, é verdade. Mas surpreendentes. Ver rastros digitais de jogos que me acompanharam ao longo dos anos pelo celular foi como abrir uma caixinha de memórias que eu nem sabia que existia. Não são muitos jogos, nem são os mais marcantes. Mas estavam ali, silenciosos, esperando para me lembrar de que até nas distrações mais simples, há histórias registradas.
“O que parece insignificante hoje pode ser memória sólida amanhã.”
– Reflexão via Google Play
4.3 – Nintendo: Memórias não rastreáveis
Sempre foi minha casa. Desde o NES, passando mais recentemente pelo Wii, Wii U, 3DS e hoje o Switch. A Nintendo foi a plataforma onde mais vivi como jogador. E sempre defendi que não ligava para conquistas, rankings ou online. Era verdade. Me divertia em família, no meu ritmo, offline. Mas hoje, olhando por essa nova perspectiva — de quem passeia por seus rastros — vejo como seria incrível revisitar aqueles dias se houvesse um sistema de conquistas na Nintendo. Não para me exibir, mas para me lembrar de mim mesmo. Das tardes em Skyloft. Das noites em Yoshi’s Island. Dos segredos em Xenoblade. Tudo isso está aqui, na memória. Mas às vezes, queria que estivesse lá também, visível, tocável, sequer estão listados todos os jogos que joguei no Switch (talvez pelo tempo que não os jogo - um mistério para mais tarde).
“A Nintendo me ensinou a jogar com o coração. Mas seria lindo se tivesse registrado quantas vezes ele bateu mais forte.”
– O menino do Wii
4.4 – Xbox: O silêncio que fui eu quem criei
Talvez pareça estranho, mas no Xbox... não há nada. Nada rastreável, ao menos. E não é culpa da plataforma. É culpa minha. Nunca criei uma conta Live. Nunca me conectei. Sempre joguei offline, sem salvar meu caminho digital. Por curiosidade, instalei o Paciência no PC — apenas para ter certeza. E sim, a ausência continua. O Xbox foi, para mim, o lugar onde joguei sem querer ser lembrado. Um arquivo em branco que também conta uma história: a de alguém que só queria jogar, entrei na floresta sem jogar pedaços de pão, por descuido e desconhecimento joguei sem deixar rastros.
“Nem todo silêncio é vazio. Alguns dizem: eu estava aqui, só não quis ser visto.”
– Reflexo em tela preta
4.5 – PC: O labirinto de lojas e versões
Desde 2021, o PC se tornou minha principal plataforma. Steam, Epic, GOG — todas convivem lado a lado, e com isso, também os dilemas. Descobri que nem todos os jogos têm conquistas. Que nem todas as lojas oferecem os mesmos sistemas de rastreamento. Isso causou estragos. Desinstalações em massa. Escolhas motivadas não pela preferência, mas pela presença de achievements.
Amazon Games e Battle.net não mostraram nada no hub — talvez por limitação técnica, talvez por ausência real. EA e Ubisoft merecem menção honrosa: alguns poucos jogos estão lá, como relíquias escondidas em catálogos instáveis. O PC, com toda sua flexibilidade, me mostrou que às vezes ter opções demais é também ter que escolher demais. E que a busca por rastros pode roubar um pouco da pureza de jogar — mas também pode trazer de volta o senso de progresso.
“Jogar no PC é como entrar num labirinto com muitas portas — mas nem todas levam ao que você quer lembrar.”
– Um clique além do caos
Capítulo 5: O Resgate do Menino do Nintendinho
Foi então que, como se o destino entendesse meu cansaço moderno, surgiu o RetroAchievements.
“Há vitórias que não aparecem em listas, mas acendem memórias que nenhum troféu consegue alcançar.”
– Entre o retro e o eterno
Instalei o RetroArch na Steam. Linkei com o RetroAchievements. Abri os jogos da minha infância. O Nintendinho 8 bits, aquele que ocupou meus dias e madrugadas durante a adolescência, virou meu templo novamente.
Minha ideia era simples: abrir os jogos que amava, verificar se tinham conquistas, jogá-los até morrer ou até obter o primeiro "achievement" (seja ele uma arma, uma transformação ou só um sentimento de progresso). Sem pressão. Sem urgência. Sem temporada. Só jogo puro, do jeito que me formou como jogador e como gente.
Aos poucos fui criando uma nova lista, ainda em construção. Uma jornada de redescoberta, sem objetivo definido além de me reconectar com a essência de jogar. E, curiosamente, essa experiência me divertiu mais do que todas as temporada de Diablo IV.
“Às vezes, tudo que a gente precisa é lembrar de como era jogar quando a gente ainda não precisava vencer.”
– Retroverso pessoal
Capítulo 6: Uma Jornada Sem Temporada
Hoje, coloco minha gamertag ali em cima nessa página. Não para exibir medalhas, mas para marcar o ponto de virada. Aquela referência silenciosa de quem saiu do grind automatizado e voltou a sentir. Não sei se vou zerar tudo. Não sei se vou platinar algo. Mas, sinceramente, isso nunca foi o ponto.
A página de conquistas virou o que a jornada de temporada deveria ter sido. Um espaço para sentir progresso. Para revisitar memórias. Para me divertir comigo mesmo. E, talvez, compartilhar aqui quando algum jogo me tocar de novo.
Deixarei aqui nesse post também uma imagem fixa do momento atual de minha gamertag como uma lembrança desse ponto de virada, quem acompanhou até aqui, obrigado pelo seu tempo e pela companhia. Parar de jogar Diablo de forma massiva é para mim um fim de uma era...
“Desistir não é fracasso. Às vezes, é só a coragem de parar de insistir no que já não diz mais nada.”
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