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terça-feira, 10 de junho de 2025

Papo na Fogueira - O Retorno

Capítulo 1: Diário para Ninguém

Eu sei. Fiquei um bom tempo sem escrever. Chamam de bloqueio criativo — e talvez até fosse. Mas o mais curioso é que, ao escrever isso, sei que falo comigo mesmo. A internet, como já disse aqui antes, está morta. Os blogs hoje vivem mais como cápsulas do tempo do que como espaços de leitura. E isso me conforta.

Porque esse silêncio virtual transforma este lugar num diário moderno. Um daqueles que, na adolescência, vinha com cadeado e chave. A diferença é que, hoje, o cadeado é a falta de audiência. E essa anonimidade pública, paradoxalmente, me parece incrível.

Mesmo sem escrever, os papos na fogueira continuaram. Toda terça-feira, como sempre. Sempre vivos, sempre pulsantes. O que doeu mesmo foi não conseguir transformá-los em palavras. Mas hoje, retorno com mais do que relatos: retorno com a memória de uma noite que me preparou por dias.

Capítulo 2: A Proposta de Estarmos Mais Presentes

Na última terça, algo foi diferente. Eu pedi a palavra. Talvez por necessidade, talvez por impulso. Quis propor uma adição ao nosso ritual: antes das ideias, falar das nossas semanas. Das pequenas dores e vitórias. Um relatório emocional sem pauta, apenas para que soubéssemos mais de cada um — e estivéssemos mais presentes na vida real, não só nas ideias soltas.

Foi então que o Alexandre começou. Sempre ponderado, quase metódico. Mas com aquele humor ácido que quebra qualquer formalidade. Falou de trabalho, projetos, suas ideias musicais. Entre risos e ironias bem colocadas, dividiu conquistas e tropeços como quem sabe rir da própria sombra. Alexandre não precisa se impor para ser escutado — sua forma de falar convida, desconstrói, aproxima.

“A leveza está na ironia de quem sobrevive com lucidez.”
– Citação anônima, mas ouvida nas entrelinhas de Alexandre

Capítulo 3: A Lógica Flexível de André

Depois foi a vez de André. Ouvi-lo é sempre uma experiência. Ele fala com firmeza, mas com uma abertura rara. Mesmo que pense diferente, há nele algo brilhante: a habilidade de te mostrar como aquele pensamento foi construído. Ele não joga ideias no ar — ele as desenha, camada por camada, e te dá liberdade para discordar.

Essa disposição de não considerar nada como imutável — de reconhecer que nada está escrito em fogo — é o que faz seus discursos tão vivos. E ele também contou da semana: das derrotas e vitórias, sem peso, sem floreio. Apenas com verdade e leveza. Como quem sabe que tudo passa — inclusive os próprios pensamentos.

“Nada está escrito em fogo. Só no papel. E até isso se apaga.”
– Reflexão livre, inspirada por André

Capítulo 4: Meu Domingo Preparado

Então chegou minha vez. A semana tinha sido pesada — muitas horas extras, projetos saindo do controle, imprevistos demais para poucos dias. Mas algo me sustentava: o encontro de terça.

No domingo anterior, já me preparava mentalmente para ele. Não por formalidade, mas por necessidade. Porque estar naquele círculo, naquela pluralidade de pensamentos, naquele espaço onde nenhuma ideia precisa se defender para existir… é combustível. É o tipo de momento que transforma a exaustão em sentido.

Dessa vez, curiosamente, não filosofamos tanto. As trocas sobre nossas semanas consumiram quase todo o tempo. Mas não faltou nada. Pelo contrário: ali percebi que o grupo já não era mais só espaço de ideias — era espaço de presença. De afetos. De escuta. De vida real.

“Nem toda fogueira precisa de faíscas para aquecer. Às vezes, basta o silêncio partilhado.”
– Eu mesmo, num pensamento tardio pós-terça

Capítulo 5: O Valor de Um Espaço Sem Preço

Ver aquele grupo se transformar — de pensadores ocasionais em cúmplices emocionais — é algo que não tem preço. Aquilo que começou como um encontro de ideias se tornou o ponto alto do meu ano. Um lugar onde nenhuma ideia precisa se justificar, nenhum sentimento precisa de armadura, nenhum silêncio é desconfortável.

Talvez isso seja o que buscamos em quase tudo: lugares onde possamos existir inteiros, mesmo quando estamos em pedaços. A fogueira virou lar. E retornar a ela, mesmo que em texto, é mais do que escrever — é permanecer.

Voltar a escrever aqui, mesmo que ninguém leia, é me reencontrar. Porque escrever é como estar na fogueira: é acender o próprio espírito, mesmo que só para si.


“Não escrevo porque tenho leitores. Escrevo porque ainda me escuto.”

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