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terça-feira, 25 de março de 2025

Colônia 9 - Xenoblade

Colônia 9 — Onde a Inocência Termina em Xenoblade Chronicles

Colônia 9 — Onde a Inocência Termina em Xenoblade Chronicles

25/03/2025

“Existem lugares que só percebemos o quanto eram lar... quando já não existem mais.”

É estranho o que a memória emocional nos faz sentir ao voltar para um jogo. Colônia 9, o início de Xenoblade Chronicles, é um desses lugares onde a nostalgia tem cheiro, peso, e feridas antigas. Revisitar essa cidade agora, em 2025, é muito diferente do que foi em 2011. Naquela época, tudo ainda era novo — inclusive minha vida. Eu era outro. Shulk também.

Voltar é um ato perigoso. Porque agora eu sei. Sei que a Fiora vai morrer. Sei o que vem depois. E é exatamente por isso que eu fiquei tanto tempo lá dentro, antes de seguir adiante. Me prendendo nas sidequests mais simples — entregando itens, caçando insetos, conversando com NPCs que, pela estrutura do jogo, poderiam ser irrelevantes... mas não são. Porque nessa revisita, percebo quantas reflexões estão escondidas nas falas mais banais.

“Será que estamos prontos para sair das muralhas?” diz um deles. E eu, diante da tela, me vi sem resposta. Porque essa muralha não é só da cidade — é da minha própria zona de conforto. Do lugar onde ainda não aconteceu a dor. Da parte da vida onde a perda ainda não mostrou sua face.

Andar por Colônia 9 é andar por um jardim prestes a ser devastado. Um Éden às vésperas da queda. E o mais cruel é saber que não há escolha. A história vai acontecer. A espada vai cortar. Fiora vai morrer.

Mas antes disso... me permito observar. Voltar a conversar com os mesmos personagens. Entrar nas casas que, há tantos anos, eu já havia entrado. E enfrentar os mesmos caminhos com os mesmos erros. Porque, sim, eu morri de novo para os mesmos monstros fortes demais na saída da cidade. Eu ignorei o aviso e fui adiante. É quase poético repetir o erro — como se a minha mente quisesse reviver a frustração, não evitá-la.

Existe algo de cruelmente belo nesse início de Xenoblade. A forma como o jogo te dá liberdade — mas essa liberdade vem antes da tragédia. A cidade está viva. Mas não por muito tempo. E cada vez que a Fiora sorri, é como se o tempo me lembrasse: isso tudo já é passado. Mesmo jogando no presente.

Colônia 9 é, para mim, uma metáfora perfeita de muitos momentos da vida. Aqueles que só percebemos a importância quando estão prestes a desaparecer. O jogo, nessa nova jornada, me mostra que crescer é isso. É revisitar, com outros olhos, as paisagens que já conhecíamos. É entender a dor antes que ela aconteça. E mesmo assim, não poder evitá-la.

Demorei para sair da cidade. Fiquei horas apenas explorando, procrastinando a dor que eu sabia que viria. Talvez seja assim com a vida também. Talvez todos nós fiquemos muito tempo em cidades emocionais que já não nos cabem mais, mas das quais não conseguimos partir sem nos quebrar um pouco.

E Fiora morre. De novo. Mas eu também morro um pouco com ela. Toda vez.

Esse é o peso de revisitar algo que te marcou. E, ainda assim, que privilégio poder sentir tudo isso. Outra vez.

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