Gamertag

domingo, 30 de março de 2025

Romantic Notions of a Girl / Boy


  "Entre o amor que conforta e o amor que machuca, há uma escolha silenciosa que define quem realmente somos." – Desconhecido

Entre Mônica, Andreas e Erik: O Amor nas Escolhas que o Jogo e a Vida nos Impõem

Mais uma vez, Xenoblade Chronicles me surpreendeu.
Não com uma batalha épica ou uma virada de roteiro cinematográfica — mas com uma simples sidequest. Uma daquelas missões que muitos passam batido, mas que, dessa vez, mexeu comigo de um jeito inesperado.

Estou ainda no começo da campanha, revisitando o jogo pela segunda vez, anos depois da minha primeira jornada, em 2011. Mas dessa vez é tudo diferente. Não só o jogo — eu também sou outro.


2011: Um Jogador Apaixonado. 2025: Um Observador Ferido

Em 2011, eu era casado. Pai, marido, trabalhador. Tinha aquela esperança tranquila, quase inocente, de que a vida estava mais ou menos resolvida. Jogar Xenoblade naquela época era mergulhar em uma aventura épica, com um coração que ainda não tinha tantas cicatrizes.

Agora, em 2025, eu carrego bem mais do que experiência em jogos. Carrego memórias, dores, aprendizados. E por isso, uma missão que talvez tenha sido só uma escolha simples no passado, agora me paralisou.


A Missão: "Romantic Notions of a Girl"

A missão acontece na primeira cidade do jogo, mais precisamente na área militar. Você encontra Mônica, uma mulher apaixonada que deseja usar uma “gota do amor” (Tephra Drop) — um item místico que, segundo dizem, faz alguém se apaixonar por quem o oferece.

Ela quer usá-la com Erik, um soldado que, em uma visão premonitória, demonstra frieza e desinteresse. Erik diz que Mônica “até é legal”, mas que se ela se mostrar muito romântica ou carente, ele simplesmente vai largá-la.

A cena me causou desconforto imediato. Vi ali algo que conheço bem: alguém genuinamente entregue, apaixonada por uma pessoa que está apenas jogando com seus sentimentos.

Logo depois, outro personagem entra na história: Andreas. Diferente de Erik, ele parece amar Mônica de verdade. Mas ele também pede a gota — para forçar o amor dela por ele.

A decisão está nas suas mãos:

  • Se você entrega a gota para Mônica, ela usará com Erik. Ela ficará feliz... por um tempo. Mas talvez não seja correspondida, talvez seja descartada.

  • Se você entrega a gota para Andreas, Mônica se casará com ele... mas triste. Porque seu coração não será dele.

"Entre o amor que conforta e o amor que machuca, há uma escolha silenciosa que define quem realmente somos." – Desconhecido

E de repente, o jogo me colocou diante de uma pergunta real:
Qual é a escolha certa — fazer alguém feliz com algo que pode machucá-la mais tarde, ou oferecer a ela uma vida segura, porém sem brilho?


Amor Não Correspondido: Entre Fantasia e Realidade

Essa missão simples toca em um tema que conhecemos bem:
amar alguém que não nos ama de volta.
Ou, talvez ainda mais cruel: ser amado por alguém que não conseguimos amar.

Em muitos momentos da vida, somos Erik, Mônica ou Andreas.
Somos o indiferente, o apaixonado, o rejeitado.
Somos quem implora, quem espera, quem desiste.
E às vezes, somos os três — tudo ao mesmo tempo.

Na juventude, talvez a gente pense que amor é só sobre o sentimento.
Com o tempo, a gente descobre que amor sem respeito é armadilha.
Que insistir em alguém que não nos vê é uma forma silenciosa de autoabandono.
E que forçar alguém a amar, mesmo com as melhores intenções, não é amor — é carência disfarçada.


A Escolha Filosófica: O Que Eu Faço com Essa Missão?

Quando joguei em 2011, talvez eu tenha escolhido sem pensar. Provavelmente entreguei a gota para Mônica. Estava apaixonado na vida real. Não conhecia ainda o lado sombrio de amar alguém que não te escolhe de volta.

Mas agora… agora tudo é diferente.
Essa missão, escondida em uma cidade qualquer, me colocou diante do espelho.

Volto no tempo, em lembranças que ainda doem em silêncio, e me vejo, sim, sendo Erik.

Mulheres se aproximaram com o coração na mão, oferecendo amor, cuidado, presença — e eu, imerso na minha própria dor, não soube como receber.
Estava blindado, fechado, endurecido.
Às vezes por traumas antigos, às vezes por uma raiva muda do mundo, às vezes simplesmente porque não conseguia mais acreditar que alguém pudesse me amar de verdade.
E nesses momentos, eu era frio.
Não por maldade, mas por incapacidade.
Afastei pessoas que talvez tivessem ficado, magoei corações que só queriam me ver bem. E o que mais pesa não é o que me foi negado, mas o que eu fui incapaz de acolher.
Hoje, quando penso nisso, sinto um nó — porque percebo o quanto a minha frieza feriu amores sinceros.
E alguns desses amores… talvez nunca voltem.

Em outros momentos, fui Mônica. 

Amei com tudo. Com corpo, alma, esperança e paciência.
E me dediquei tanto que perdi até a mim mesmo.
Fiz gestos invisíveis, entreguei esforços diários, sacrifícios silenciosos.
Tudo com a ilusão de que aquele amor um dia seria correspondido na mesma intensidade.
Mas não era.
Cada tentativa minha era vista como "óbvia", "esperada", "insuficiente".
Meu melhor era sempre abaixo do mínimo.
Minha presença, dispensável.
Meu amor, um peso.
E doía — como doía — perceber que o que pra mim era um universo inteiro, pro outro era só um detalhe.
A ferida de amar sozinho é uma das mais profundas.
A gente sangra por dentro com um sorriso por fora.
E segue, acreditando que, talvez, amanhã, a pessoa enxergue.
Mas quase nunca enxerga.

E então, tem a pior de todas as versões: quando fui Andreas.

Essa, sim, me dilacera até hoje.
Amar alguém que não está só indiferente a você, mas que está apaixonada por outro — alguém que claramente não se importa.
Eu vi.
Vi declarações públicas, paixões escancaradas, gestos lindos e intensos sendo oferecidos a alguém que mal estava presente.
E cada uma dessas demonstrações — que não eram pra mim — me partia.
Era como assistir alguém dançando na beira do abismo enquanto você estende a mão, implora, mas é ignorado.
É o lugar mais cruel para se estar:

ser o porto seguro que nunca é escolhido.
Ser o amor que ficaria, que cuidaria, que trataria com gentileza…
Mas que nunca será amado de volta.
E o que sobra é um silêncio ensurdecedor.
Uma dor que não grita, mas que ecoa em tudo.
Tem dias em que isso ainda me destrói por dentro.
Tem dias em que parece que eu nunca vou conseguir sair desse papel.
Ser Andreas é ser suficiente demais para ser ignorado — e mesmo assim continuar ali. Esperando. Até que esperar se torne exaustão.


E Se a Gente Parasse de Tentar “Escolher por Amor”?

Talvez o verdadeiro dilema não seja “quem merece a gota”, mas “por que estamos tentando controlar o amor dos outros?”
Talvez o jogo esteja, discretamente, nos dizendo:
não existe escolha certa quando o sentimento é forçado.

O amor só vale quando é recíproco.
Só floresce quando é espontâneo.
Só constrói quando é livre.

E talvez o mais amoroso a se fazer… seja não dar a gota a ninguém.

Infelizmente não existe essa possibilidade na sidequest, seria apenas não completá-la.

"Às vezes, não escolher é o gesto mais amoroso que podemos oferecer." – Desconhecido

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