Gamertag

sábado, 22 de março de 2025

Refúgios Fantásticos: Quando a Imaginação Se Torna Morada

"Quando a realidade pesa, que seja a imaginação o lugar onde a alma repousa." – Desconhecido

Acordei neste sábado com uma tristeza profunda. Daquelas que não têm uma origem clara, mas que se espalham feito névoa pela mente e pelo corpo. A semana foi difícil, carregada, cansativa. E o que me sustentou ao longo desses dias não foram cafés fortes, nem metas cumpridas — foi a possibilidade de habitar outros universos.

Me vi mergulhado em mundos alternativos: em histórias, jogos, jornadas. E isso me levou a uma pergunta que me pegou desprevenido: será que essa paixão por universos imersivos é apenas um gosto pessoal ou é uma fuga disfarçada da realidade?


Fronteiras entre Encantamento e Fuga

Desde muito jovem, jogos com histórias bem escritas, mundos construídos com riqueza de detalhes e personagens profundos sempre me fascinaram. Sempre achei que fosse simplesmente meu estilo, meu gosto particular. Mas hoje, com a mente mais silenciosa e o coração mais exposto, começo a me perguntar:
Será que eu me apaixonei por esses mundos porque a realidade sempre me pareceu difícil demais de suportar?

Porque, convenhamos, o mundo real pode ser frio, opressor, solitário.

Pessoas decepcionam, relações se esvaziam, a rotina se transforma num ciclo mecânico e injusto. Somos ignorados, subestimados, desvalorizados. Em momentos assim, não é difícil entender por que um universo onde somos heróis, líderes, centrais para a narrativa se torna tão atraente.

No mundo real, muitas vezes somos invisíveis.
No mundo imaginário, somos imprescindíveis.


Na Fantasia, Somos Tudo Aquilo que o Mundo Real nos Nega Ser

Nos jogos e nos livros, empunhamos espadas que lutam contra o mal, usamos armaduras reluzentes, salvamos cidades, planetas, pessoas — até nós mesmos.

Temos falas impactantes, amizades leais, poderes grandiosos. Somos celebrados.
E há beleza nisso. Há consolo nisso.

É curioso pensar que existem cidades fictícias pelas quais consigo me orientar com precisão, saber onde fica cada viela, cada loja, cada esconderijo. Em contrapartida, a cidade onde nasci — aquela real, que me moldou — hoje me parece quase estrangeira.

Se eu caísse ali agora, talvez reconhecesse alguns lugares. Talvez até encontrasse o caminho até minha antiga rua.
Mas muitos pontos se apagaram da memória.
Enquanto isso, há ruas em Hyrule, Rabanastre, Midgar, Novigrad ou Hollow Bastion que percorro com os olhos fechados.

A geografia da fantasia parece ter se tornado mais real para mim do que os caminhos da minha própria vida.


Quando a Imaginação Vira Lar

Essa reflexão talvez só esteja me cutucando com tanta força porque hoje é sábado.
Porque acordei triste, nostálgico.

E, como todo sentimento que insiste em ficar, ele se transforma em perguntas:
Será que fui mais feliz em universos fictícios do que em muitos lugares reais?
Será que a fantasia foi mais lar do que os espaços concretos da minha vida?

A resposta, talvez, não importe tanto.

Talvez o que realmente importe seja aceitar que, sim, os mundos que habitamos — reais ou imaginários — deixam marcas igualmente verdadeiras.

Se houve consolo, acolhimento e alegria dentro de um jogo ou livro, isso foi vivido. Isso foi sentido. E isso é legítimo.


A Realidade Ainda Existe — Mas Não Precisa Ser o Único Lugar Onde Vivemos

Há dias em que fugir para um universo fantástico não é fraqueza — é sobrevivência.
É a forma mais delicada e silenciosa que encontramos para continuar existindo num mundo que, às vezes, parece querer nos esmagar.

E talvez o segredo esteja em não nos culparmos por isso.
Talvez a chave seja entender que podemos amar os dois mundos.

Podemos caminhar entre o concreto e o imaginado.
Podemos carregar espadas brilhantes em silêncio, enquanto enfrentamos monstros reais do lado de fora.
Podemos decorar mapas de reinos encantados enquanto ainda procuramos nos situar dentro de nós mesmos.

"Os mundos que criamos para fugir da dor às vezes se tornam os únicos lugares onde conseguimos respirar." – Desconhecido

 

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