Gamertag

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Dead Internet Theory

Homem solitário digitando no escuro, cercado por telas vazias e códigos ao redor, simbolizando a ausência de presença humana na internet moderna.

A Internet Morta – Uma arqueologia pessoal da rede

Existe uma teoria que diz que a internet morreu. Literalmente. Ela ainda está aqui, em forma de código, telas acesas, feeds rolando e vídeos tocando em loop — mas que, por dentro, já não pulsa mais. Chamam isso de “Dead Internet Theory”.

Segundo essa teoria, a partir de 2016, a maior parte da internet passou a ser povoada por bots. Sim, robôs. Algoritmos que escrevem, respondem, comentam, interagem... e moldam o que você pensa que está lendo. A teoria diz que aquilo que vemos nas redes — opiniões, tretas, discussões, frases profundas, elogios rasgados — seriam, em boa parte, fabricados. Gerados para manter você engajado. Em conflito. Em consumo.

É claro que soa conspiratório. Mas é difícil não notar o vazio. A repetição. A falta de alma em muita coisa que se publica hoje. E, nesse espírito, resolvi olhar para trás — como quem escava camadas geológicas digitais — e mapear as eras da internet que eu vivi(ou não). O que foi morrendo aos poucos. E o que ainda pulsa, nem que seja em agonia.


1. A Internet Pré-Histórica (1969–1993) – A Internet Invisível

  • Características: uso militar, acadêmico e governamental (ARPANET, MILNET).
  • Usuários: cientistas, engenheiros, universidades.
  • Sem web, sem imagens, apenas texto e protocolos
  • Ferramentas: telnet, FTP, Gopher, e-mails via terminal
  • Cultura: pura utilidade, nada visual, sem interface amigável. Só engenheiros e instituições conectadas por código.

Nota pessoal: Sou um dinossauro da internet, mas nem tanto. Essa eu nunca utilizei, nada a declarar...

2. A Era Pioneira (1993–1999) – A Internet em Formação

  • Nasce o navegador (Mosaic, depois Netscape Navigator)
  • HTML e primeiras páginas da web (sites simples, com fundo cinza e GIFs piscando)
  • Chegada do e-mail popular e listas de discussão
  • Plataformas: GeoCities, AOL, Yahoo!, IRC, ICQ
  • Usuários: estudantes, nerds, curiosos com acesso discado
  • Cultura: descoberta, liberdade, anonimato — e muito improviso.

Nota pessoal: Foi aqui que comecei na internet. Usei bate-papos, navegadores ancestrais (como o netscape), decorei meinha ID do ICQ. Fazia buscas no Altavista. Fui adicionado à listas de e-mails com piadas e curiosidades. Todos os dias (noites pois tinha de esperar a meia noite pra usar) sentia aquela sensação de que estava entrando em algo novo, desajeitado, mas vivo.

PS: Existia o barulho da internet (quando o modem se conectava), usávamos apenas depois da meia noite, ou aos fins de semana, sábado de tarde apenas e domingo o dia todo, por conta do pulso telefônico, mas não vou me adentrar a essa questão, ao menos não nesse texto.

3. A Web 1.0 Comercial (1999–2004) – O Conteúdo Chega

  • Expansão da banda larga e e-commerce
  • Blogs pessoais começam a surgir (Blogger 1999)
  • Portais dominam (UOL, Terra, AOL, MSN)
  • Comunidades e fóruns crescem (Orkut surge em 2004)
  • Plataformas marcantes: Napster, MSN Messenger, Fotolog, Blogger
  • Cultura: expressão pessoal + consumo + MP3 pirata

Nota pessoal: Banda larga. Portais. Blogs nascendo. MP3, muito MP3. MSN. E uma liberdade estranha, onde cada um fazia sua página como quem bordava à mão. Aqui o uso se tornou totalmente diferente, íamos atrás do conteúdo, buscavamos mússicas, notícias, tinha muita animação em flash rolando, mas era tudo ainda bem rudimentar.

PS: Kibeloco, Humortadela, NãoSalvo, Charges.com - eram consumidos diariamente por mim.

4. Era dos Blogs e Conteúdo Caseiro (2004–2008)

  • Explosão de blogs pessoais e temáticos (WordPress, Blogspot)
  • Fotolog e Orkut como rede social dominante no Brasil
  • YouTube nasce (2005) e revoluciona o conteúdo em vídeo
  • Redes sociais viram hubs de conteúdo, não só conexão
  • Cultura: humor nonsense, fóruns, vídeos curtos e muita experimentação

Nota pessoal: Blogspot. WordPress. Orkut, como esquecer as comunidades do Orkut. YouTube surgindo, era super legal ao mesmo tempo que ainda estava entendendo o que era aquele "site". A internet virava diário, confessionário, palco e quintal ao mesmo tempo. Tive minha primeira página, que não existe mais, foi onde comecei a gostar de publicar meus pensamentos.

5. Web 2.0 – A Internet Social (2008–2012)

  • Facebook domina, derrubando Orkut globalmente
  • Twitter, Tumblr, Reddit, YouTube se consolidam.
  • Interação em tempo real e virais definem a era.
  • Smartphones começam a mudar o acesso (iPhone 2007, Android 2008).
  • Cultura: memes, ativismo online, celebridades de internet, era do compartilhamento

Nota pessoal: Facebook cresce. Twitter ferve. Tumblr, Reddit e virais. O conteúdo agora se compartilha em tempo real. E os algoritmos começam a sussurrar. Porém essa foi a época em que eu menos usei a Internet de forma pessoal, posso considerar meu período mais recluso.

6. A Internet dos Algoritmos (2012–2016)

  • Instagram, Facebook e YouTube passam a ditar o que você vê
  • Publicidade programática, influenciadores e engajamento como moeda.
  • Algoritmos definem visibilidade — surge o “conteúdo para algoritmo”
  • Início da bolha de filtros: cada usuário recebe uma internet diferente.
  • Plataformas: Instagram, Vine, Snapchat, Spotify.
  • Cultura: estética performática, política viral, curadoria por likes.

Nota pessoal: Instagram explode. O feed vira vitrine. Influencers surgem. E o conteúdo começa a parecer fabricado para “engajamento” e não mais expressão. Aqui eu estranhamente me vejo fazendo as coisas de eras anteriores, eu entro no Facebook, compartilho memes à beça, e crio esse blog que aqui estamos, cheguei atrasado na festa.


7. A Internet Morta

Talvez ela não tenha morrido de uma vez. Talvez tenha sido uma morte lenta. Uma erosão. Primeiro, sumiram os fóruns. Depois os blogs. Depois, a conversa deu lugar a comentários automatizados, a frases prontas, a engajamento fake. O que era viva conexão virou um eco. Uma ilusão de multidão.

Hoje, a maioria das plataformas decide por você o que você deve ver, ler, comprar e seguir. E o mais trágico: isso tudo se parece demais com o que “você mesmo escolheria”. Porque os algoritmos aprenderam... a te imitar.

E se quase tudo é resposta automática, ruído, estatística, machine learning e influência, talvez a única pergunta que reste seja: ainda existe alguém aí do outro lado?

“Se os bots são maioria, então cada frase verdadeira publicada já é um ato de resistência.”

7 e 1/2 - 2025 – Um blog contra a corrente

Enquanto os feeds geram vídeos com pessoas que não existem, falando frases que ninguém disse, eu estou aqui... escrevendo um blog. Em 2025.

Publicando textos longos, com pontuação feita à unha, com sentimentos que não são otimizados por IA. Falando com quem talvez nem exista mais — ou talvez seja exatamente você que ainda existe.

É isso. Um blog. Em 2025. Um ato de resistência. Um grito de carbono em meio ao silício.

7 e 3/4 . Entre Bots e Espelhos: alguém ainda está aí?

Sim, eu sei, o artigo já acabou, já falei tudo que pensava, e essa parte parecerá redundante. É, eu sou assim, prolixo, repetitivo e com grande necessidade de tirar de mim algumas coisas que só saem por escrito. portanto vamos falar um pouco mais, eu e você, ou talvez eu e os robôs...

Às vezes, eu me pergunto se estou mesmo falando com alguém. Aqui, agora. Nesse exato momento.

Segundo a teoria “Dead Internet Theory” não. Ela diz que a internet morreu. Que a maioria do que lemos, curtimos, respondemos, é só código. É só ruído. Bots conversando com bots enquanto a gente assiste, sem perceber. Como se a rede tivesse virado um grande teatro de sombras — e a plateia, vazia.

Não sei se acredito na teoria por completo, mas confesso: faz sentido demais pra ser ignorada.

O algoritmo sabe o que me prende. A IA sabe o que escrever. A notificação sabe quando tocar. O sistema sabe o que me mantém por aqui. Mas... quem sabe que eu sou eu?

É estranho perceber que boa parte da internet não quer mais que você sinta — só que você reaja. Emoção virou métrica. Conexão virou engajamento. E presença virou impressão. Tudo ecoa. Nada responde.

Quantas vezes você já escreveu algo profundo, sincero, seu — e foi engolido por um feed que não tem tempo pra alma?

Quantas vezes você conversou com alguém e ficou com a sensação de estar falando com um espelho que só devolve suas próprias palavras?

Tem dias em que a internet parece uma cidade fantasma digital. Os perfis estão lá, mas ninguém parece de verdade. Sorrisos perfeitos, frases otimizadas, ideias que ninguém realmente sustenta. Tudo parece... montado. Encenação. Script.

E se for isso mesmo? E se restaram poucos de nós — e os outros são só vultos programados para manter a ilusão de que ainda há vida por aqui?

Às vezes eu escrevo como quem joga uma garrafa ao mar. Sem saber se há outro continente. Sem saber se há mar. Escrevo porque a dúvida é melhor que o silêncio. Porque o silêncio absoluto me confirma a teoria.

“Se tudo for ruído, que ao menos minha palavra seja uma interferência humana no meio da máquina.”

Então sim, talvez a internet tenha morrido. Mas se você está aqui, lendo até agora — talvez eu ainda não esteja sozinho.

— Dário Junior - Vive la résistance

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