Gamertag

quarta-feira, 30 de abril de 2025

FROM S1E4 - A Rock And A Faraway

From – Segundas Impressões

Temporada 1, Episódio 4: A Escuridão se Aproxima

🚨 Aviso: este texto contém spoilers da série From.

Chegamos ao quarto episódio da primeira temporada de From e a sensação que cresce é clara: as coisas estão ficando cada vez mais bizarras e obscuras. O que parecia ser apenas uma cidade perdida no tempo, com suas regras próprias para sobreviver a horrores noturnos, vai se revelando como algo muito mais enraizado — uma podridão que não se limita apenas aos monstros de fora. Ela atravessa as pessoas, seus passados, seus pecados, seus silêncios.

A atmosfera muda sutilmente a cada cena. A tensão, antes apenas uma camada de fundo, agora é o próprio chão que ameaça ceder. Cada personagem carrega um pedaço desse mistério, e cada segredo parece mais uma sombra escondida na esquina, à espera do momento certo para agarrá-los. Não há mais inocência aqui. Só perguntas, muitas perguntas, e uma certeza: a escuridão de From é mais profunda do que parecia.

Capítulo 1: Victor, a criança criada pela cidade

Victor é o tipo de personagem que, à primeira vista, poderia passar como apenas mais um excêntrico perdido no meio do caos. Mas nesse episódio, percebemos que ele é muito mais do que isso: ele é um vestígio vivo da própria história da cidade. Um fragmento ambulante de um passado que ninguém mais parece lembrar — ou sobreviver para contar.

Descobrimos que Victor cresceu ali. Que ele foi, de certa forma, moldado pela própria cidade, como um experimento cruel da natureza ou de forças ainda desconhecidas. Como uma criança conseguiria sobreviver num ambiente desses? A resposta é dura: se escondendo. Victor passou anos num porão. Anos no escuro, ouvindo passos, gritos, esperando a hora certa para sair — e talvez, em muitos momentos, esperando que não precisasse sair nunca.

O que aconteceu com os corpos? Essa pergunta paira como um cheiro ácido na narrativa. Victor menciona os corpos, mas não explica. Deixam-se pistas, mas nada é dito abertamente. Será que eles foram vítimas dos monstros? De algo pior? Do próprio desespero humano? A ausência de respostas é mais apavorante do que qualquer monstro visível.

O menino de branco também entra em cena como uma presença quase mitológica. Quem é ele? Amigo ou inimigo? Uma manifestação de outra dimensão ou apenas o delírio de uma mente quebrada? Victor parece vê-lo, reconhecê-lo, mas não o questiona. Como se o menino de branco fizesse parte do manual secreto de sobrevivência de From. Uma regra não escrita.

Victor é, ao mesmo tempo, a criança perdida e o adulto deformado pela necessidade brutal de sobreviver. E o mais assustador é perceber que, talvez, ele seja o retrato do futuro de outras crianças ali, se a cidade não permitir escapatória.

Capítulo 2: Ethan e a Estranha Conexão

Se Victor representa o passado ferido, Ethan parece carregar o presente como uma nova esperança — ou talvez, um novo risco. Desde os primeiros episódios, Ethan tem se mostrado sensível a fenômenos que os adultos ignoram ou racionalizam. Ele fala com naturalidade sobre sonhos, sobre lugares que não viu, sobre sensações que adultos se forçaram a esquecer.

A ligação entre Victor e Ethan se torna palpável aqui. Victor vê em Ethan algo que reconhece — talvez a mesma capacidade de sobreviver à cidade de formas que os adultos não conseguem. Existe uma conexão invisível entre eles, como dois polos opostos de um mesmo campo magnético.

Mas também percebemos que Ethan parece ser, para as forças ocultas da cidade, uma peça muito especial. Um elo que precisa ser quebrado. Sarah, a personagem dividida entre o medo e a loucura, ouve vozes — e essas vozes dizem para matar Ethan. Por quê? O que ele representa? Um perigo para o equilíbrio macabro da cidade? Um potencial catalisador de mudanças?

Capítulo 3: A Casa Colonial e seus próprios fantasmas

Na Casa Colonial, as tramas pessoais continuam se desenrolando, trazendo à tona outra camada do drama humano em From. Elis e Fátima recebem Julie com gentileza, quase como uma tentativa de restaurar algum senso de normalidade dentro do pesadelo. Um lar improvisado em meio ao fim do mundo.

Entendemos melhor a revolta de Julie nesse episódio. Ela é a adolescente típica arrancada do seu mundo confortável e jogada num pesadelo sem manual de sobrevivência. Mas agora, com a revelação do divórcio dos pais, sua rebeldia ganha contornos mais profundos. Julie não está apenas brava com o destino. Ela está magoada. Traída pela promessa implícita de que a família seria seu porto seguro.

Descobrimos também mais sobre Thomas, o bebê que tanto sofrimento causou aos Matthews. E mais uma vez, a série nos lembra que as maiores tragédias de From não são apenas causadas pelos monstros — mas pelas perdas, pela culpa, pelos fantasmas internos que cada personagem carrega consigo.

A Casa Colonial não é um refúgio. É apenas um palco onde velhas feridas continuam abertas, à vista de todos.

Conclusão: Perguntas sem resposta e reflexões aprendidas

Ao final do episódio 4, From não oferece conforto. Oferece mais perguntas.

  • Quem é o menino de branco?
  • Por que Ethan é tão importante?
  • O que realmente causou a transformação de Victor?
  • Existe alguma esperança concreta dentro da cidade?
  • Ou toda tentativa de racionalizar a sobrevivência está fadada ao fracasso?

O episódio nos ensina que, em From, a sobrevivência não é apenas física. Ela é emocional, espiritual, psicológica. E talvez, no fim, aqueles que sobreviverem sejam não os mais fortes — mas os que conseguirem aceitar o mistério sem a necessidade de compreendê-lo completamente.

Como uma boa história de terror existencial, From não está nos assustando apenas com monstros. Está nos fazendo olhar para dentro. E ver quantos deles já estavam lá.

— Dário Junior

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