Gamertag

quarta-feira, 30 de abril de 2025

FROM S1E4 - A Rock And A Faraway

From – Segundas Impressões

Temporada 1, Episódio 4: A Escuridão se Aproxima

🚨 Aviso: este texto contém spoilers da série From.

Chegamos ao quarto episódio da primeira temporada de From e a sensação que cresce é clara: as coisas estão ficando cada vez mais bizarras e obscuras. O que parecia ser apenas uma cidade perdida no tempo, com suas regras próprias para sobreviver a horrores noturnos, vai se revelando como algo muito mais enraizado — uma podridão que não se limita apenas aos monstros de fora. Ela atravessa as pessoas, seus passados, seus pecados, seus silêncios.

A atmosfera muda sutilmente a cada cena. A tensão, antes apenas uma camada de fundo, agora é o próprio chão que ameaça ceder. Cada personagem carrega um pedaço desse mistério, e cada segredo parece mais uma sombra escondida na esquina, à espera do momento certo para agarrá-los. Não há mais inocência aqui. Só perguntas, muitas perguntas, e uma certeza: a escuridão de From é mais profunda do que parecia.

Capítulo 1: Victor, a criança criada pela cidade

Victor é o tipo de personagem que, à primeira vista, poderia passar como apenas mais um excêntrico perdido no meio do caos. Mas nesse episódio, percebemos que ele é muito mais do que isso: ele é um vestígio vivo da própria história da cidade. Um fragmento ambulante de um passado que ninguém mais parece lembrar — ou sobreviver para contar.

Descobrimos que Victor cresceu ali. Que ele foi, de certa forma, moldado pela própria cidade, como um experimento cruel da natureza ou de forças ainda desconhecidas. Como uma criança conseguiria sobreviver num ambiente desses? A resposta é dura: se escondendo. Victor passou anos num porão. Anos no escuro, ouvindo passos, gritos, esperando a hora certa para sair — e talvez, em muitos momentos, esperando que não precisasse sair nunca.

O que aconteceu com os corpos? Essa pergunta paira como um cheiro ácido na narrativa. Victor menciona os corpos, mas não explica. Deixam-se pistas, mas nada é dito abertamente. Será que eles foram vítimas dos monstros? De algo pior? Do próprio desespero humano? A ausência de respostas é mais apavorante do que qualquer monstro visível.

O menino de branco também entra em cena como uma presença quase mitológica. Quem é ele? Amigo ou inimigo? Uma manifestação de outra dimensão ou apenas o delírio de uma mente quebrada? Victor parece vê-lo, reconhecê-lo, mas não o questiona. Como se o menino de branco fizesse parte do manual secreto de sobrevivência de From. Uma regra não escrita.

Victor é, ao mesmo tempo, a criança perdida e o adulto deformado pela necessidade brutal de sobreviver. E o mais assustador é perceber que, talvez, ele seja o retrato do futuro de outras crianças ali, se a cidade não permitir escapatória.

Capítulo 2: Ethan e a Estranha Conexão

Se Victor representa o passado ferido, Ethan parece carregar o presente como uma nova esperança — ou talvez, um novo risco. Desde os primeiros episódios, Ethan tem se mostrado sensível a fenômenos que os adultos ignoram ou racionalizam. Ele fala com naturalidade sobre sonhos, sobre lugares que não viu, sobre sensações que adultos se forçaram a esquecer.

A ligação entre Victor e Ethan se torna palpável aqui. Victor vê em Ethan algo que reconhece — talvez a mesma capacidade de sobreviver à cidade de formas que os adultos não conseguem. Existe uma conexão invisível entre eles, como dois polos opostos de um mesmo campo magnético.

Mas também percebemos que Ethan parece ser, para as forças ocultas da cidade, uma peça muito especial. Um elo que precisa ser quebrado. Sarah, a personagem dividida entre o medo e a loucura, ouve vozes — e essas vozes dizem para matar Ethan. Por quê? O que ele representa? Um perigo para o equilíbrio macabro da cidade? Um potencial catalisador de mudanças?

Capítulo 3: A Casa Colonial e seus próprios fantasmas

Na Casa Colonial, as tramas pessoais continuam se desenrolando, trazendo à tona outra camada do drama humano em From. Elis e Fátima recebem Julie com gentileza, quase como uma tentativa de restaurar algum senso de normalidade dentro do pesadelo. Um lar improvisado em meio ao fim do mundo.

Entendemos melhor a revolta de Julie nesse episódio. Ela é a adolescente típica arrancada do seu mundo confortável e jogada num pesadelo sem manual de sobrevivência. Mas agora, com a revelação do divórcio dos pais, sua rebeldia ganha contornos mais profundos. Julie não está apenas brava com o destino. Ela está magoada. Traída pela promessa implícita de que a família seria seu porto seguro.

Descobrimos também mais sobre Thomas, o bebê que tanto sofrimento causou aos Matthews. E mais uma vez, a série nos lembra que as maiores tragédias de From não são apenas causadas pelos monstros — mas pelas perdas, pela culpa, pelos fantasmas internos que cada personagem carrega consigo.

A Casa Colonial não é um refúgio. É apenas um palco onde velhas feridas continuam abertas, à vista de todos.

Conclusão: Perguntas sem resposta e reflexões aprendidas

Ao final do episódio 4, From não oferece conforto. Oferece mais perguntas.

  • Quem é o menino de branco?
  • Por que Ethan é tão importante?
  • O que realmente causou a transformação de Victor?
  • Existe alguma esperança concreta dentro da cidade?
  • Ou toda tentativa de racionalizar a sobrevivência está fadada ao fracasso?

O episódio nos ensina que, em From, a sobrevivência não é apenas física. Ela é emocional, espiritual, psicológica. E talvez, no fim, aqueles que sobreviverem sejam não os mais fortes — mas os que conseguirem aceitar o mistério sem a necessidade de compreendê-lo completamente.

Como uma boa história de terror existencial, From não está nos assustando apenas com monstros. Está nos fazendo olhar para dentro. E ver quantos deles já estavam lá.

— Dário Junior

sexta-feira, 25 de abril de 2025

Papo na fogueira #1 - Ceticismo e Fé

Papo na Fogueira #1 — A Primeira Brasa

Nem lembro qual de nós sugeriu o encontro. Talvez tenha sido um daqueles convites que brotam mais como necessidade do que como ideia. O tipo de coisa que ninguém escreve num grupo, mas todo mundo sente quando a vida começa a doer nas entrelinhas.

Nos encontramos tarde da noite. Um lugar simples, longe do barulho do mundo. Só nós três. Amigos de longa data que já foram mais próximos, mas que a vida — com sua vocação para separar o que era inseparável — tratou de colocar em cidades diferentes, rotinas opostas, silêncios não intencionais.

Não nos víamos há tempos. Anos, talvez. Mas bastaram os primeiros olhares, os abraços, a piada interna mais antiga que a barba de um de nós, e tudo voltou. Rimos como quem reaprende a própria língua.

A fogueira já queimava baixa quando nos sentamos ao redor dela. Cada um com uma cadeira de acampamento, uma bebida qualquer na mão, e aquele cansaço bom de quem está onde deveria estar.

Depois dos cumprimentos, das risadas, do “e fulano, hein?”, do “lembra daquela vez?”, veio a pergunta inevitável, feita sem palavras: por que estamos aqui mesmo?

Foi aí que a conversa começou. Não aquela de pegar notícias ou atualizar redes. Mas a de verdade. A que só acontece com o barulho da brasa estalando e um pouco de coragem pra rasgar as camadas do cotidiano.

Esse é o primeiro capítulo de uma série de encontros, reais e simbólicos, onde três homens falam sobre a vida, o que aprenderam, o que ainda não entenderam — e, principalmente, o que queimou pelo caminho.

Bem-vindo ao nosso Papo na Fogueira.

— Dário Junior

1. Fé, ceticismo e a ausência de respostas

Foi o André quem puxou o primeiro assunto. Não com peso, nem como quem dá palestra — mas como quem precisava, de algum jeito, tirar aquilo do peito. Falava devagar, olhos baixos, segurando o copo com duas mãos, como quem esquentava as palavras antes de soltá-las.

“Eu já fui mais crente”, ele disse. “E não falo só de acreditar em Deus. Falo de acreditar que havia uma lógica, um propósito. Um plano. Que a dor tinha motivo. Que o bem sempre voltava. Que o mal era cobrado.”

Ele falou sobre o tempo em que frequentava o kardecismo, com aquelas reuniões de estudo, o Evangelho no Lar, os livros de Allan Kardec — e depois o catolicismo, com seus ritos, santos, e uma fé mais silenciosa, quase ritualística. Mas com o passar dos anos, tudo começou a parecer mais distante. Mais vazio. Mais... improvisado.

“Você começa a olhar pro mundo e não consegue mais aceitar as explicações prontas. Aí vê criança doente, gente boa quebrando a cara, gente ruim prosperando. E começa a perguntar: cadê? Cadê o plano, cadê o retorno, cadê o equilíbrio?”

Ele falou sobre seu cansaço com promessas invisíveis. Disse que não odiava Deus — mas também não via mais sentido em pedir sinais. “Porque se tem algo além, ele anda bem calado. E se tem justiça divina, ela parece operar em outro fuso horário.”

Ninguém interrompeu. Nem eu. Nem o outro amigo. Era noite de ouvir.

“A real”, ele disse, “é que eu queria prova. Não sentimento, não intuição. Prova. Experiência. Um clarão. Um milagre. Um recado. Qualquer coisa que não fosse só discurso.”

Ele virou o copo, olhou pra fogueira e concluiu: “Mas talvez o silêncio seja a única resposta.”

E foi só então que alguém falou. Mas isso já é o próximo capítulo.

2. Vozes do invisível

Foi o Alexandre quem quebrou o silêncio depois do desabafo do André. Mas ele não falou pra contestar. Falou como quem oferece outro caminho pra mesma pergunta.

“Cara,” ele começou, “eu entendo demais esse vazio. Já senti ele também. Mas comigo foi o contrário: quanto mais eu via o mundo doido, mais eu buscava entender o que vinha depois.”

Alexandre é espírita. Daqueles que não só leem, mas vivenciam. Estudioso, calmo, quase didático. Não daquele jeito arrogante de quem quer ensinar, mas como quem se acostumou a dar nome ao que outros só sentem.

Ele falou sobre os fenômenos. Sobre mesas girantes, psicografias, materializações. Sobre relatos que circulam há mais de um século e que, segundo ele, resistiram ao tempo por um motivo: “Não tem como tudo isso ser invenção. Tem coisa ali que escapa do acaso.”

Comentou sobre o Livro dos Médiuns, citou experiências que acompanhou de perto em centros, com médiuns sérios, discretos, longe dos holofotes. “Já vi coisa que não dá pra explicar como coincidência. Presenças. Palavras que ninguém podia saber. Sensações que não são suas.”

Mas ele não vendeu milagre. Não usou como resposta definitiva. Disse com serenidade: “Não tô dizendo que a dor tem que ser aceita sem revolta. Tô dizendo que existe algo além. E que o Espiritismo, pelo menos pra mim, é a doutrina que mais se esforça pra oferecer alguma prova concreta disso.”

“E não é sobre crer cegamente. É sobre observar. Estudar. Viver. A fé aqui não é só emoção — é raciocínio também.”

André ouvia. Calado. Como quem escuta sem comprar. Mas escuta mesmo assim.

Ali, na beira da fogueira, não havia debate. Havia ecos. E cada um parecia carregar uma parte da verdade que o outro ainda não via.

Eu ainda não tinha falado nada. Mas já sabia que ia chegar a minha vez.

3. Nem anjos, nem demônios — só gente

Foi o Alexandre quem trouxe o próximo ponto. E dessa vez, com um sorriso no canto da boca. Pegou o celular, procurou um vídeo e disse:

“Vou mostrar um negócio pra vocês. É meio sátira, mas resume bem uma parte da doutrina que pouca gente entende.”

No vídeo, um homem fala com ironia inteligente: “O Diabo não existe. Anjo também não. Tem só gente. Encarnada e desencarnada. E algumas dessas pessoas são bem difíceis — com ou sem corpo.”

Rimos. A fogueira estalou alto, como se também tivesse achado graça. Mas Alexandre não ficou só no riso. Ele pausou o vídeo e continuou:

“É isso que o Espiritismo tenta mostrar. Que o mal e o bem não estão fora. Estão em nós. E em quem já foi. Quando falamos de obsessores, por exemplo, não estamos falando de demônio com tridente. Estamos falando de alguém que morreu e ficou preso à raiva, ao vício, à inveja. Gente comum, com problema mal resolvido.”

Ele explicou que a obsessão espiritual não é castigo divino, nem possessão de filme. É só uma ligação emocional não rompida. Um laço tóxico entre consciências, que às vezes vem de outras vidas, às vezes nasce nessa aqui mesmo.

“A gente adora terceirizar o mal”, ele disse. “É mais fácil dizer que o demônio fez do que assumir que a pessoa fez — porque quis. E o mesmo vale pros milagres. Nem todo sopro de luz vem de anjo. Às vezes, é só alguém lá do outro lado ainda tentando fazer o bem.”

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Não aquele silêncio de constrangimento — mas o silêncio do “faz sentido”. Do “eu nunca tinha pensado por esse ângulo”.

Era curioso como a conversa circulava pelo invisível com tanta naturalidade. E, mais curioso ainda, como mesmo discordando em pontos, ninguém levantava barreira. Era como se a fogueira aceitasse todas as chamas — desde que não apagassem a escuta.

4. Céu, Inferno e o Cristo que não me abandona

Eu respirei fundo antes de falar. Não por hesitação — mas por respeito. Porque quando três adultos se expõem de verdade, com as feridas abertas pela vida, não se trata mais de convencer. É só sobre dividir o que queima em cada um.

“Eu entendo o vídeo. Juro que entendo. Essa ideia de que tudo se resume a pessoas, encarnadas e desencarnadas... tem lógica, tem peso. Mas, pra mim, ainda existe o céu. Ainda existe o inferno. E não só como metáforas.”

Falei com calma. Olhando pra brasa, que já estava mais vermelha do que laranja. “Eu ainda acredito no Deus da Bíblia. Acredito no Cristo. Não só como um símbolo — mas como presença. Como alguém que esteve aqui e ainda está.”

Não citei versículos. Não preguei. Não levantei bandeira. Mas eu disse com clareza: eu acredito em anjos. E acredito que existe um mal que vai além da maldade humana. Um mal que tem nome, que tem rastro, que tem fome. O mal que divide, que suga, que mente bonito. E não, pra mim, isso não é só gente desequilibrada. É espiritual também.

“Eu sei que muita coisa é construção, que muita coisa a gente repete sem pensar. Mas tem algo em mim que nunca abandonou a ideia de que há um lugar preparado. Que há justiça depois do caos. Que existe um céu — e que existe um inferno. Não só como estados de espírito, mas como realidades espirituais.”

Os dois me ouviram sem piscar. E foi bom poder dizer sem medo, sem precisar medir palavra. Porque ali, naquela roda, não existia doutrina. Só fé tentando se traduzir.

“Talvez isso tudo que a gente tá falando seja só linguagem pra tentar dar forma ao invisível. Mas no fundo”, eu disse, “minha fé é a única coisa que me impediu de me perder completamente. E enquanto ela estiver aqui, eu acredito: há mais coisa entre o céu e a terra... e o Cristo, pra mim, é a ponte.”

Ninguém respondeu na hora. Só o silêncio concordando que toda fé sincera é válida — mesmo que caminhe por trilhos diferentes.

A fogueira seguia acesa. E ainda havia muito o que queimar.

5. Entre boatos e documentos

Foi o Alexandre quem puxou essa agora. Meio de passagem, no embalo da conversa sobre fé e doutrina. Falava sobre as distorções da religião ao longo dos séculos, e aí soltou: “O cânon da Bíblia foi criado por Constantino no Concílio de Niceia, né? Aquela coisa toda de escolher os livros que interessavam ao Império.”

Eu respirei, bebi um gole, e respondi com cuidado — porque esse era o tipo de tema que poderia virar disputa se não fosse tratado com a mesma leveza da brasa.

“Mano, isso é um boato. Muito repetido, sim, mas sem nenhum lastro arqueológico ou documental real. Essa história de que o imperador Constantino escolheu a dedo os livros da Bíblia no Concílio de Niceia não tem base histórica confiável. O Concílio aconteceu, claro. Em 325 d.C. Mas o tema ali era a natureza de Cristo, se Ele era coeterno com o Pai ou não. Nada sobre canonizar livros.”

Falei sem levantar a voz, nem bater martelo. Só colocando os fatos que eu já tinha pesquisado. “O processo de formação do cânon bíblico foi muito mais longo. Bem anterior a Constantino em partes — e bem posterior em outras. Era uma questão de uso comunitário, reconhecimento entre os fiéis e cartas circulando entre as igrejas. Não teve um decreto imperial dizendo ‘isso entra, isso sai’.”

“E sim, houve listas. Houve debates. Houve textos que circularam e depois deixaram de circular. Mas associar isso ao poder de Roma como quem troca capítulos de um livro por conveniência política é simplificar demais.”

O André acenou com a cabeça. O Alexandre ouviu em silêncio e no fim soltou um “vou dar uma lida melhor nisso aí depois”. Que já era mais do que suficiente. Ninguém ali precisava vencer. Era só mais um tronco lançado na fogueira das ideias.

Rimos, como se soubéssemos que no fundo... até as conversas mais sérias são feitas também de ruído, de mitos repetidos, de “ouvi dizer” que ganha força com o tempo.

E ali, sob aquele céu escuro salpicado de estrelas, a gente lembrava que verdade, fé e história às vezes não moram no mesmo parágrafo — mas podem dividir a mesma roda.

Últimas brasas da noite

A fogueira já estava quase virando brasa. O vento esfriava devagar, e as palavras também iam ficando mais espaçadas. Mas o silêncio não era desconfortável — era contemplativo. Aquela pausa boa depois de um papo longo, onde ninguém precisa fingir certeza e cada dúvida é tratada como uma chance de aprender.

Nós três sabíamos que não concordávamos em tudo. Mas também sabíamos que isso não tinha a menor importância. Porque amizade de verdade não exige aliança teológica. Exige escuta. E isso a gente tinha — de sobra.

André, com sua decepção espiritual honesta, nos mostrou o rosto humano do cansaço de crer. Alexandre, com seu entusiasmo doutrinário sereno, nos lembrou que fé também pode ser lógica. E eu... entre um e outro, compartilhei minha própria visão: cheia de céu e inferno, Cristo vivo, e um Deus que nunca saiu da linha do meu horizonte.

O que nos unia não era a resposta. Era o fogo. O desejo de entender. A coragem de perguntar. A vontade de falar das coisas que o mundo ensina a engolir calado.

Antes de apagar a última centelha, combinamos: o próximo encontro teria um novo tema. Algo que ficou ali, anotado no canto de uma caixa de fósforos, como se fosse a pauta mais importante da eternidade:

“Na próxima vez, vamos falar sobre as provas arqueológicas da existência de Jesus. E dos textos. Das profecias bíblicas. De tudo isso que ficou só encostado hoje.”

Porque a fogueira pode apagar, mas o papo não termina. E a amizade... essa não precisa ser reacendida. Ela só precisa de espaço — e de tempo.

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Reconstrução da Colônia 6 - Xenoblade Chronicles

Guia Completo: Reconstrução da Colônia 6 em Xenoblade Chronicles: Definitive Edition

Em Xenoblade Chronicles: Definitive Edition para Nintendo Switch, a reconstrução da Colônia 6 é uma missão paralela opcional, mas bastante envolvente. Ela não aparece no registro de missões, mas é fundamental para desbloquear novos NPCs, lojas, afinidades e conteúdos exclusivos.

🛠️ Como funciona a reconstrução da Colônia 6

A reconstrução é dividida em quatro categorias, cada uma com cinco níveis de desenvolvimento:

  • Habitação (Housing): Aumenta a população da colônia, permitindo convidar mais NPCs de outras regiões.
  • Comércio (Commerce): Desbloqueia novas lojas e itens exclusivos.
  • Natureza (Nature): Melhora a qualidade dos cristais de éter obtidos na colônia e na Mina de Éter.
  • Especial (Special): Adiciona pontos de coleta com itens raros, especialmente úteis após áreas do jogo se tornarem inacessíveis.

Cada nível requer uma combinação específica de ouro e materiais, que podem ser obtidos como itens colecionáveis, drops de inimigos ou através de trocas com NPCs. Na Definitive Edition, após alcançar a Ilha da Prisão pela segunda vez, é possível adquirir todos os materiais necessários usando Noponstones no modo Time Attack, facilitando a obtenção de itens raros.

🧭 Iniciando a reconstrução

A missão de reconstrução começa após completar a missão "O Caminho de Casa" (The Road Home), que envolve derrotar seis Black Smoke Hox na Ponte Raguel. Após isso, fale com Juju em frente ao QG de Reconstrução na Colônia 6 para acessar o menu de reconstrução.

📋 Materiais necessários por nível

Para facilitar, abaixo estão as tabelas com os materiais e ouro necessários para cada nível de desenvolvimento em cada categoria. Os materiais podem ser obtidos de inimigos, pontos de coleta ou trocas com NPCs. Também é possível adquiri-los com Noponstones no modo Time Attack.

🏠 Habitação (Housing)

Nível Ouro Materiais Necessários
1 9.000 G 2x Spotted Volff Hide (Volff em Bionis' Leg)
2x Steel Silk (Colecionável em Tephra Cave)
2 19.000 G 4x Bunnia Scent Wood (Ogre Bunnia em Satorl Marsh)
1x Fossil Monkey (Colecionável em Makna Forest)
3 55.000 G 1x Eks Iron Heart (Eks em Makna Forest)
4x Sturdy Armour (Andos em Eryth Sea)
2x Oil Branch (Colecionável em Eryth Sea)
4 120.000 G 5x Ponio Hoof (Seal Ponio em Fallen Arm)
3x Royal Volff Hide (Volff em Fallen Arm)
3x Warning Lamp (Colecionável em Fallen Arm)
2x Retro Diode (Colecionável em Mechonis Field ou Colônia 6 Nível 3 Especial)
5 300.000 G 2x Vang Star Wing (Vang em Windy Cave e Tephra Cave)
3x Gogol Horn (Gogol em Bionis' Leg e Satorl Marsh)
2x Red Frontier (Colecionável em Sword Valley)
2x Black Styrene (Colecionável em Central Factory ou Colônia 6 Nível 4 Especial)
3x Rainbow Zirconia (Colecionável em Colônia 9 ou Colônia 6 Nível 2 Especial)

🛒 Comércio (Commerce)

Nível Ouro Materiais Necessários
1 10.000 G 2x Igna Hide Jacket (Igna em Satorl Marsh e Exile Fortress)
2x Amblygon Turtle (Colecionável em Colony 6 - Hope Farm)
2 22.000 G 3x Hode Plank (Hyle Hode em Makna Forest)
2x Ready Coil (Colecionável em Ether Mine)
3 55.000 G 3x Shiny Kromar Hide (Kromar em Eryth Sea)
2x Slick Kromar Stone (Kromar em Eryth Sea)
2x Blue Ladybird (Colecionável em High Entia Tomb)
4 100.000 G 5x Piranhax Fishmeal (Fair Piranhax em Fallen Arm)
8x Silver Antol Fibre (Antol em Fallen Arm - Digit 1)
3x Sour Turnip (Colecionável em Fallen Arm)
2x Mossy Panel (Colecionável em Mechonis Field)
5 250.000 G 1x Ocean Elixir of Life (Kyel Lexos em Colony 6 após Mechonis Core)
4x Ancient Sardi Meat (Throne Sardi em Colony 9)
2x Art Core Coil (Colecionável em Galahad Fortress)
1x Fortune Feather (Colecionável em Agniratha)
4x Hill Firefly (Colecionável em Bionis' Leg)

🌿 Natureza (Nature)

Nível Ouro Materiais Necessários
1 5.000 G 2x Sharp Hox Spur (Hox em Bionis' Leg)
2x Dark Grape (Colecionável em Tephra Cave)
2 18.000 G 2x Quadwing Bag (Quadwing em Satorl Marsh)
3x Empress Beetle (Colecionável em Frontier Village)
3 40.000 G 3x Jagged Tail (Eryth Hiln e Eryth Ansel em Eryth Sea)
2x Despair Clover (Colecionável em Eryth Sea)
2x Ice Cabbage (Colecionável em Valak Mountain)
4 99.000 G 3x Caterpile Silk (Royal Caterpile em Bionis' Leg)
3x Hox Daylight Spur (Dark Hox e White Hox em Bionis' Leg)
3x Oil Oyster (Colecionável em Fallen Arm)
3x White Plum (Colecionável em Fallen Arm)
5 280.000 G 3x Ardun Elder Beard (Magnis Ardun em Bionis' Leg)
1x Tokilos King Egg (Leg Tokilos em Bionis' Leg)
2x Lewisia Silver (Colecionável em Agniratha)
2x Black Liver Bean (Colecionável em Bionis' Interior)
2x Black Beetle (Colecionável em Ether Mine)

✨ Especial (Special)

Nível Ouro Materiais Necessários
1 8.000 G 1x Light Rain Element (Aqua Nebula em Bionis' Leg)
1x Kneecap Rock (Colecionável em Tephra Cave)
2 25.000 G 2x Dust Element (Caris Nebula em Makna Forest)
3x Sea Berry (Colecionável em Eryth Sea)
3 50.000 G 2x Squall Element (Bono Nebula em Eryth Sea)
2x Snow Element (Reef Nebula em Valak Mountain)
3x Lemonade Sky (Colecionável em Makna Forest)
4 130.000 G 3x Flexible Selua Cell (Largo Selua em Bionis' Interior)
3x Steel Selua Cell (Wool Selua em Bionis' Interior)

🎁 Recompensas e benefícios

Conforme você avança na reconstrução:

  • A música ambiente da Colônia 6 muda, refletindo o progresso da reconstrução.
  • Novos NPCs se tornam disponíveis para recrutamento.
  • A qualidade dos cristais de éter melhora, permitindo a criação de gemas mais poderosas.
  • Itens colecionáveis raros aparecem na colônia, especialmente úteis se áreas anteriores do jogo se tornarem inacessíveis.

Além disso, completar o primeiro nível de todas as quatro categorias desbloqueia o Forno de Éter Móvel, permitindo a criação de gemas em qualquer lugar.

⚠️ Dicas importantes

  • Alguns materiais necessários para os níveis mais altos só estão disponíveis em áreas que se tornam inacessíveis após certos eventos da história. É recomendável coletá-los antes de avançar demais no enredo.

quarta-feira, 23 de abril de 2025

FROM S1E3- Choosing Day

🚨 Aviso: este texto contém spoilers da série From.

Segundas Impressões – Escolher Onde Cair

From, primeira temporada, episódio 3. Um capítulo sobre escolhas forçadas, estruturas frágeis e o que sustenta uma comunidade sob ameaça constante.

Escolher onde morar. Parece algo banal, um privilégio cotidiano. Mas nesse episódio de From, essa decisão se transforma em um dilema quase existencial. A família Matthews chega à encruzilhada: ficar na cidade, sob a liderança de Boyd, ou seguir para a casa colonial, onde reina uma certa liberdade comandada por Donna. A série nos convida a refletir sobre o que nos faz sentir seguros. Ou livres. Ou iludidamente no controle.

A decisão precisa ser tomada rapidamente, sem tempo para adaptação. E isso já diz muito sobre a lógica desse universo: tudo aqui é tensão, urgência, ameaça. Não há espaço para o conforto da ponderação. Cada escolha é um salto — e o chão pode não estar mais lá quando aterrissarmos.

Não há animosidade explícita entre Boyd e Donna. Eles parecem coexistir em um pacto silencioso de sobrevivência, cada um liderando à sua maneira. Mas há rachaduras. A relação entre Boyd e seu filho, Ellis, é uma delas. E, por mais improvável que pareça, essas fissuras privadas refletem as tensões maiores que sustentam (ou ameaçam) toda a comunidade.

A cidade parece mais estruturada, regrada, quase opressiva. Mas também parece ser um lugar mais seguro para crianças. Já a casa colonial pulsa com uma energia mais adulta — e às vezes, quase libertina. Ainda no início do episódio, vemos um casal transando a poucos metros de onde a família Matthews tenta dormir. Há ali uma vibração de desapego, de vida vivida no limite, o que pode ser excitante para alguns... e insuportável para outros.

Mesmo com um dos quartos da casa da cidade literalmente banhado em sangue, Tabitha, Jim e Ethan optam por ficar ali. Já Julie, a filha adolescente, escolhe ir para a casa colonial. Na primeira vez que vi essa cena, aquilo me pareceu quase um ato de provocação juvenil. Hoje, ao rever, percebo: a família Matthews já chegou quebrada. From não está os destruindo. Apenas expondo as rachaduras com mais luz.

Tabitha, em especial, está à beira de um colapso. Bélica, arisca, desconfiada de tudo e todos. Seu comportamento pode parecer exagerado, mas quem somos nós para julgar? Estamos falando de uma mulher arrastada para um pesadelo sem fim, vendo sua família se despedaçar dia após dia. Talvez sua raiva seja só outra forma de luto.

A Caixa

E então temos ela: a caixa. Um artefato estranho, metálico, isolado no meio da cidade. Apareceu desde o primeiro episódio, mas aqui começa a ganhar função simbólica. Para muitos, parece um reboque abandonado. Para outros, é uma ferramenta de punição. Mas para todos ali, ela representa uma verdade indiscutível: existem regras. Regras duras. Regras que matam.

A caixa é o instrumento mais cruel e mais necessário dessa comunidade. Ela existe para lembrar que a ordem precisa de consequência. Que o medo, por mais detestável, é um aliado da sanidade em tempos extremos. Me lembra a velha tática da espada na bainha: o poder não está em usá-la, mas em mantê-la visível o tempo todo. Uma ameaça silenciosa que impede o caos de eclodir.

E ainda assim... o caos vem. Frank quebrou as regras. E quebrou, também, a si mesmo. No início da série, vimos as consequências disso. Sua esposa e filha foram mortas por sua irresponsabilidade. E ele ficou... oco. Vazio. Destruído. Tentou afogar a dor no álcool e acabou flutuando na própria culpa. Quando Boyd lhe oferece a chance de fugir da punição, ele recusa. Não porque quer morrer. Mas porque não consegue mais viver com o que fez.

É doloroso assistir. Porque no fundo, sabemos: Frank não é o vilão. É só mais uma vítima daquilo que essa cidade faz com as pessoas. Ela não arranca apenas a liberdade. Ela corrói a alma. Lentamente.

Boyd, o Padre e o Peso da Decisão

Boyd ainda é um mistério. Não sabemos como ele virou líder. Não sabemos até onde vai sua frieza — ou sua humanidade. Mas nesse episódio, vemos um vislumbre do seu conflito interno. A conversa dele com o Padre Khatri é uma das mais densas até aqui. Nenhum dos dois está certo. Nenhum está errado. Um quer preservar a ordem. O outro quer resgatar a compaixão. A série joga o espectador nesse limbo moral onde toda certeza vira interrogação.

É o tipo de dilema que só séries corajosas se permitem encarar. Em From, não existe o bem absoluto. Só escolhas difíceis, em um mundo que parece desenhado para falhar. Um jogo de sobrevivência onde a empatia é uma arma rara e, por isso mesmo, valiosa.

Jade e a “Escape Room Cósmica”

E aí temos... Jade. O hacker, o cético, o arrogante — e talvez o personagem mais divertido (e irritante) da série até agora. Ele acredita, com uma convicção quase ofensiva, que tudo aquilo é uma escape room elaboradíssima. Como se monstros devoradores de carne humana e caixas de execução fossem apenas puzzles imersivos.

Ver Jade analisar os eventos com lógica gamer, tentando encontrar pistas e padrões, chega a ser hilário. É o tipo de humor ácido que a série sabe usar na medida certa. Porque Jade, apesar de insuportável, representa também uma parte de nós: a necessidade desesperada de encontrar um sentido, uma lógica, um roteiro, mesmo que a realidade esteja gritando o contrário.

Se o inferno é real, ele provavelmente se parece com uma escape room onde o tempo acabou — e ninguém te avisou.


Segundas impressões também servem para revelar aquilo que passou despercebido na primeira. E From é esse tipo de série: ela nos convida a olhar de novo. Não para entender melhor. Mas para sentir diferente.

terça-feira, 22 de abril de 2025

Xenoblade Chronicles - Frontier Village

Segundas Impressões – A Vila Entre os Galhos

Xenoblade Chronicles, rejogado em 2025. Um capítulo sobre Frontier Village, árvores que guardam histórias e missões que tocam de verdade.

Rejogar Xenoblade Chronicles em 2025 tem sido como vasculhar um velho baú que ficou fechado por mais de uma década. A poeira emocional se acumula nos cantos, mas ao levantar a tampa, o cheiro de infância, memória e surpresa ainda está lá. E mesmo que os olhos agora estejam mais cansados, eles também enxergam melhor. Com mais exigência, talvez. Mas também com mais generosidade. Com mais... sede.

Algumas paisagens que me fascinavam em 2011 hoje me parecem simples, como brinquedos que guardávamos com orgulho e, ao reencontrar, percebemos que eram pequenos — mas não menos significativos. Por outro lado, muitos detalhes que passaram despercebidos na época, agora me atravessam como flechas certeiras. E nenhum lugar representou melhor esse reencontro afetivo do que a mágica e misteriosa Frontier Village.

1. O Encantamento Vertical: A Chegada em Frontier Village

Ela surge de repente. Escondida entre os galhos gigantes da árvore sagrada em Makna Forest, Frontier Village não é um ponto no mapa — é uma revelação. Um segredo guardado pela floresta, que só se entrega a quem tem olhos atentos e coração disposto a ouvir sussurros de madeira antiga.

A vila escondida entre os galhos de uma árvore colossal, que já havíamos visto à distância no primeiro vislumbre de Makna Forest, finalmente se revela. E a experiência é mais poderosa do que eu lembrava.

Desde o primeiro olhar à distância, algo naquela estrutura instiga. Uma promessa de verticalidade. De um mundo empilhado em andares de significado. Quando finalmente alcançamos seus primeiros degraus, a sensação não é de chegada, mas de iniciação.

“Às vezes, o que parece pequeno por fora, carrega um mundo inteiro por dentro.” – Fragmento de diário esquecido

Subir por Frontier Village é como escalar o interior de um sonho infantil. Rampa após rampa, a vila se descortina como se fosse viva. As construções parecem brotar dos galhos, e não serem impostas a eles. As casas se curvam para o tronco, as luzes dançam como vagalumes encantados, e cada andar parece guardar um pequeno ritual de descoberta. Há algo profundamente orgânico na forma como ela foi desenhada — como se a arquitetura tivesse sido sussurrada pela própria floresta.

Há um sentimento lúdico em cada detalhe. Frontier Village é uma cidade da árvore, mas lembra também aquelas casas da infância feitas de tábuas, segredos e imaginação. E é curioso: mesmo com sua grandiosidade vertical, ela desperta um tipo de afeto quase caseiro. Um aconchego nostálgico. Ao mesmo tempo em que é um labirinto vivo, é também um convite à pausa. Ao olhar. À conversa. À brincadeira. É um lugar onde se sorri com os olhos — e com os pés, que caminham sem pressa.

Talvez seja por isso que, ao explorar suas lojinhas, altares e ninhos, eu me peguei sorrindo. E não por uma cutscene emocionante, nem por um item raro — mas pela beleza de estar ali. De pertencer, por um tempo, àquela estrutura viva. Frontier Village é mais do que um cenário bonito. É um personagem. E um dos mais cativantes do jogo inteiro.

2. As Missões que Realmente Importam

E então vêm eles: os Nopon. Pequenos, estranhos, engraçados, redondos e... profundos. No início, como em qualquer RPG, pareciam apenas mascotes. Um alívio cômico entre os combates e dilemas épicos. Mas à medida que os diálogos se desenrolam e as sidequests começam a surgir, você percebe: os Nopon são muito mais do que isso. Eles carregam uma humanidade curiosa — e uma sensibilidade surpreendente.

As missões em Frontier Village tocam de forma diferente. Pela primeira vez em muitas horas de jogo, eu me vi aceitando tarefas não por XP, nem por itens lendários — mas porque queria ajudar. Um pai preocupado. Um filhote doente. Um ingrediente raro para um remédio. Um pedido de socorro feito com timidez. Aquelas vidas são pequenas, mas não são vazias. Há história ali. Há afeto. Há vida pulsando.

Ao redor da vila, as criaturas da floresta parecem gigantes famintos. A sensação de ameaça é constante. E ainda assim, os Nopon vivem, resistem, reconstroem. Estão espalhados por todos os locais que passamos, desde Colony 9 — e isso me levou a um pensamento sombrio: como esses seres frágeis sobrevivem em um mundo tão brutal?

É aí que o jogo brilha. As sidequests ganham contexto. Deixam de ser tarefas burocráticas e se tornam um gesto. Cada missão cumprida não é apenas uma estatística, mas uma pequena celebração da continuidade de uma cultura minúscula e encantadora.

Aqui os pedidos de limpar certas áreas, certos montros, fazem sentido, não parecem apenas um preenchimento vazio, me senti realmente garantindo a sobrevivência daqueles seres. Não estava apenas jogando — estava zelando.

3. Mélia: Silêncios que Dizem Muito

No meio dessa leveza, há uma sombra. Uma personagem que pouco fala, mas carrega em si o peso de um silêncio denso: Mélia.

Há algo nela que não se encaixa completamente no grupo. Uma distância. Uma contenção. Não é arrogância — é tristeza. Uma dor polida, engomada, escondida sob camadas de formalidade. Mélia é a personagem que fala menos, mas é quem mais grita por dentro. E dessa vez, diferente da primeira jogada, eu ouvi.

Talvez porque hoje eu entenda melhor o que é silenciar por proteção. O que é fingir controle para não mostrar rachaduras. Em 2011, eu era jovem demais para notar. Hoje, seus gestos me atravessam. O olhar cabisbaixo. O tom firme, mas trêmulo. A determinação que esconde luto.

“Nem sempre o que cala é tímido. Às vezes é só dor vestida de formalidade.” – Trecho solto durante uma subida

Ela não está só em missão. Ela está em luto. Em reconstrução. Em vingança. E talvez seja por isso que Shulk a compreende. E eu, aqui fora da tela, também.

4. O Heropon e o Riso Como Âncora

É nesse cenário que surge Riki. Caótico. Barulhento. Inusitado. Um soco de cor e som no meio da introspecção do grupo.

Riki parece errado. Um erro de escala, de tom, de tempo. Mas basta vê-lo interagir com os outros, e você entende: ele é necessário. É a gargalhada que salva da loucura. É o respiro entre lágrimas. É a certeza de que, mesmo nos mundos mais sombrios, a alegria é uma forma de resistência.

Casado, pai de muitos filhos, endividado, e ainda assim chamado de Heropon — Riki é o anti-herói mais heróico do jogo. Sua presença quebra a lógica do épico. E talvez por isso mesmo, funciona. Ele não encaixa... ele desencaixa. E é exatamente isso que a narrativa precisa naquele momento.

Rein lhe dá uma cortada digna de vôlei, e eu rio alto. É uma das poucas vezes em que me pego gargalhando sozinho com o jogo. Um frescor. Um alívio. E, ao mesmo tempo, um lembrete de que o riso também é elo. Também é afeto.

Riki é um personagem jogável, o Herói da vila -Heropon -
Super divertido de comandar na party, um verdadeiro frescor nessa parte do jogo.

5. A Teletia

Mas a leveza não dura. Frontier Village também tem seu monstro escondido. Sua dor engasgada. E ela atende pelo nome de Teletia.

A batalha que se segue é mais do que um desafio mecânico. É um embate emocional. Contra o estranho. Contra o que ameaça, sem explicar por quê. A Teletia lê pensamentos, antecipa ataques, absorve energia. É como lutar contra uma versão escura de si mesmo. É como brigar com o que ainda não se compreende.

Durante a luta, Mélia se rompe. Algo nela cede. Algo no grupo muda. A floresta, que até então era lar, vira arena. E o contraste visual é forte: luzes coloridas se chocam contra raízes negras. O palco da infância vira campo de guerra. E você sente — sente mesmo — que não está lutando apenas com espadas, mas com memórias. Com medos. Com fantasmas internos.

“Às vezes, o inimigo que enfrentamos por fora é só a metáfora do que ainda estamos enfrentando por dentro.” – Anotação mental durante a luta

É difícil. É injusto. Mas eles vencem. Porque se apoiam. Porque acreditam uns nos outros. Porque, no fim, a única forma de sobreviver a um mundo cruel... é juntos.

6. A Saída Pelo Lago e o Efeito-Pintura da Floresta

E quando tudo parece ter explodido, a saída vem pela água. Um lago que acolhe, refresca, devolve a calma. É como se o jogo dissesse: “Agora respira. Você sobreviveu.”

Makna Forest é uma pintura. Um lugar que não foi apenas desenhado — foi sentido. É como se cada cor tivesse emoção. Cada galho tivesse memória. A água reflete não apenas o céu, mas os olhos do jogador. Porque ali, depois de tanta dor, tanta beleza, tanta descoberta... somos outros.

O grupo mudou. Mélia mudou. Eu mudei.

“Nem sempre é preciso correr. Às vezes, basta permanecer.” – Frase rabiscada no save

Em 2025, subo novamente pelos galhos daquela árvore gigante. Os gráficos estão melhores. Os sons me parecem os mesmos. Mas eu — eu sou outro. E essa é a mágica de rejogar um jogo como Xenoblade: descobrir que as paisagens são as mesmas, mas o viajante mudou.

Segundas impressões não são repetições. São reencontros. Com lugares. Com personagens. E, principalmente, com versões de nós mesmos que já não existem mais — mas que ainda reconhecem o caminho.

domingo, 20 de abril de 2025

Entre gatilhos, comportamentos e hereditariedade

Gatilhos e Hereditariedade

Às vezes a vida parece uma vitrola arranhada. Certas melodias tocam mais de uma vez — em pessoas diferentes, em épocas distantes, em contextos distintos. E ainda assim, iguais.

É como se existissem ciclos escondidos dentro do sangue. Ou talvez apenas fantasmas comportamentais. E aí a dúvida nasce: isso é convivência ou código genético? Aprendido ou herdado?

1. Genética e Comportamentos Aprendidos — o que nos forma?

É estranho pensar que há pedaços de mim que eu nunca escolhi. Traços que não são resultado de uma decisão, mas de uma transmissão silenciosa — ancestral, automática, inevitável. A genética é esse espectro invisível que nos habita antes mesmo que a consciência desperte. É a herança que não pedimos, mas carregamos. No corpo, no temperamento, talvez até nas quedas.

A hereditariedade se instala sem pedir licença: cor dos olhos, tipo sanguíneo, estrutura óssea... mas e quanto aos impulsos? À raiva súbita? À melancolia crônica? Será que também herdei esse caos emocional, tal qual herdei minha arcada dentária?

Segundo a biologia, muitas características comportamentais possuem marcadores genéticos: tendências à ansiedade, impulsividade, dependência emocional, níveis de empatia. Há traços que vêm de fábrica. Não são desculpas — são terreno. Um campo predisposto, mas que ainda pode ou não florescer, dependendo do que vier depois.

Mas se a genética é solo, o ambiente é o clima. E o ambiente ensina. Modela. Reforça. Reprime. Faz brotar. Os comportamentos aprendidos são aqueles que não herdamos no sangue, mas absorvemos pela repetição, pelo exemplo, pela convivência. São os vícios de linguagem, as formas de reagir, o jeito de lidar (ou não lidar) com o afeto. É o tom de voz que imita sem perceber. É o silêncio que repete o de alguém.

“Não somos apenas o que herdamos ou o que aprendemos — somos o que fazemos com isso.”

2. A Natureza Ambígua da Repetição

Repetir é aprender. Repetir é afiar. É assim que se memoriza, se melhora, se vence. A repetição é a base do estudo, do treino, da excelência. Quem já tentou dominar um instrumento, uma língua, ou um esporte sabe: repetir é parte do caminho. É o ritual da maestria. É o que transforma um gesto em fluência.

Eu sempre tive uma tendência natural a gostar de repetições. Talvez porque cresci com jogos. E nos jogos, a repetição é tudo. Você erra, recomeça. Você cai, tenta de novo. Você repete até dominar. É o loop da experiência que te molda como jogador — e, de certa forma, como pessoa. Cada tentativa falha é apenas uma promessa de que, na próxima vez, pode dar certo.

Mas nem toda repetição é redentora.

Existem repetições que não constroem. Existem ciclos que não elevam — só corroem. São os padrões tóxicos que voltam com outra face. As brigas que se repetem. As ausências que machucam igual. As palavras que você já ouviu antes, ditas por outra boca, mas com o mesmo veneno. E, de repente, o passado que você achava superado reaparece na voz de alguém novo. E te desmonta do mesmo jeito.

Eu gosto de repetir o que me melhora. Mas me destrói repetir o que já me feriu. E esse é o abismo da repetição emocional: às vezes ela parece familiar, segura, previsível — até que você se dá conta que está revivendo um trauma com outro nome.

Talvez por isso certas pessoas nos atraem tanto: porque, de forma inconsciente, elas sabem exatamente como nos machucar do jeito que já conhecemos. Elas repetem o script, e a gente atua de novo. Mesmo sabendo o final.

“A repetição é a mãe da perfeição, mas também pode ser a madrasta da dor.”

3. A separação como libertação

Eu já fui casado. Eu já fui escolhido por alguém — e também escolhi. E o divórcio, por mais doloroso que seja, tem uma parte cruelmente boa: ele te separa também daquilo que você não aguentava mais. É como arrancar um espinho que sangrava todo dia, mas que você já nem percebia mais.

“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.” — Haruki Murakami

Quando me vi livre, respirei aliviado. E fiquei muito atento aos padrões, qualquer coisa que parecesse rpetida, que me lembrasse aquele lugar entristecido do qual saí, era imediatamente encerrada. Eu prometi a mim mesmo que nunca mais iria passar por nada daquilo.
Até que a vida, com seu senso de ironia perfeito, decidiu me confrontar de novo.

4. Os gatilhos das repetições

Porque aí... veio minha filha morar comigo. E em pequenas atitudes, pequenas frases, pequenos gestos... eu vi os mesmos traços. Os mesmos padrões. As mesmas expressões. E tudo aquilo que eu jurei que nunca mais enfrentaria, apareceu com novo rosto. Dessa vez, no rosto de quem eu mais amo no mundo.

Isso gera gatilhos. Gatilhos que não posso ignorar. Mas que também não posso revidar.

Eu me pego me perguntando: será que isso é só reflexo de uma convivência passada? Se ela tivesse sido criada em outro ambiente, de outro jeito, com outra direção... seria diferente?

Ou... isso está no sangue? Essa forma de agir, de reagir, de tensionar os afetos... Está codificado? Herdado? Inevitável?

“O homem é livre para fazer o que quer, mas não para querer o que quer.” — Arthur Schopenhauer

5. A verdade sem saída

E talvez... talvez eu nem queira saber a resposta. Porque qualquer resposta pode me machucar. Pode me culpar. Ou pode me condenar à impotência.

A verdade é que com minha filha... eu não posso romper.
Não há divórcio.
Não há afastamento saudável.
Não há limite que me proteja de repetir o que já vivi — só a minha consciência tentando remar contra o que já sei.

“A hereditariedade é aquilo que acreditamos não ter herdado dos nossos pais.” — Jean Cocteau

6. Devaneio encerrado (por enquanto)

E talvez esse seja meu maior devaneio: tentar interromper o ciclo. Tentar ser barreira. Tentar ser abrigo. Mesmo quando parte de mim quer apenas fugir da dor que reconhece.

Não estou aqui buscando diagnóstico. Nem análise, nem explicação científica. Eu só estou escrevendo porque, hoje, doeu de novo. E às vezes, escrever é a única forma de impedir que a dor escorra pelos cantos da alma.

Bom... esse é o devaneio de hoje.
















PS:

Tomara que não tenha nenhum psicólogo ou psicopedagogo lendo a minha página.
Eu realmente não sei o que estariam fazendo aqui também. Mas caso vocês estejam por aí... bem-vindos. Obrigado pela companhia.

Eu só estou aqui me lamentando por algo que novamente vem me machucando, machucando, e machucando.

E isso simplesmente é o que é. Não vai ser mudado. A minha relação com a minha filha é inalterável. Eu terei de estar com ela durante toda a vida dela. E basicamente será isso.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Dead Internet Theory

Homem solitário digitando no escuro, cercado por telas vazias e códigos ao redor, simbolizando a ausência de presença humana na internet moderna.

A Internet Morta – Uma arqueologia pessoal da rede

Existe uma teoria que diz que a internet morreu. Literalmente. Ela ainda está aqui, em forma de código, telas acesas, feeds rolando e vídeos tocando em loop — mas que, por dentro, já não pulsa mais. Chamam isso de “Dead Internet Theory”.

Segundo essa teoria, a partir de 2016, a maior parte da internet passou a ser povoada por bots. Sim, robôs. Algoritmos que escrevem, respondem, comentam, interagem... e moldam o que você pensa que está lendo. A teoria diz que aquilo que vemos nas redes — opiniões, tretas, discussões, frases profundas, elogios rasgados — seriam, em boa parte, fabricados. Gerados para manter você engajado. Em conflito. Em consumo.

É claro que soa conspiratório. Mas é difícil não notar o vazio. A repetição. A falta de alma em muita coisa que se publica hoje. E, nesse espírito, resolvi olhar para trás — como quem escava camadas geológicas digitais — e mapear as eras da internet que eu vivi(ou não). O que foi morrendo aos poucos. E o que ainda pulsa, nem que seja em agonia.


1. A Internet Pré-Histórica (1969–1993) – A Internet Invisível

  • Características: uso militar, acadêmico e governamental (ARPANET, MILNET).
  • Usuários: cientistas, engenheiros, universidades.
  • Sem web, sem imagens, apenas texto e protocolos
  • Ferramentas: telnet, FTP, Gopher, e-mails via terminal
  • Cultura: pura utilidade, nada visual, sem interface amigável. Só engenheiros e instituições conectadas por código.

Nota pessoal: Sou um dinossauro da internet, mas nem tanto. Essa eu nunca utilizei, nada a declarar...

2. A Era Pioneira (1993–1999) – A Internet em Formação

  • Nasce o navegador (Mosaic, depois Netscape Navigator)
  • HTML e primeiras páginas da web (sites simples, com fundo cinza e GIFs piscando)
  • Chegada do e-mail popular e listas de discussão
  • Plataformas: GeoCities, AOL, Yahoo!, IRC, ICQ
  • Usuários: estudantes, nerds, curiosos com acesso discado
  • Cultura: descoberta, liberdade, anonimato — e muito improviso.

Nota pessoal: Foi aqui que comecei na internet. Usei bate-papos, navegadores ancestrais (como o netscape), decorei meinha ID do ICQ. Fazia buscas no Altavista. Fui adicionado à listas de e-mails com piadas e curiosidades. Todos os dias (noites pois tinha de esperar a meia noite pra usar) sentia aquela sensação de que estava entrando em algo novo, desajeitado, mas vivo.

PS: Existia o barulho da internet (quando o modem se conectava), usávamos apenas depois da meia noite, ou aos fins de semana, sábado de tarde apenas e domingo o dia todo, por conta do pulso telefônico, mas não vou me adentrar a essa questão, ao menos não nesse texto.

3. A Web 1.0 Comercial (1999–2004) – O Conteúdo Chega

  • Expansão da banda larga e e-commerce
  • Blogs pessoais começam a surgir (Blogger 1999)
  • Portais dominam (UOL, Terra, AOL, MSN)
  • Comunidades e fóruns crescem (Orkut surge em 2004)
  • Plataformas marcantes: Napster, MSN Messenger, Fotolog, Blogger
  • Cultura: expressão pessoal + consumo + MP3 pirata

Nota pessoal: Banda larga. Portais. Blogs nascendo. MP3, muito MP3. MSN. E uma liberdade estranha, onde cada um fazia sua página como quem bordava à mão. Aqui o uso se tornou totalmente diferente, íamos atrás do conteúdo, buscavamos mússicas, notícias, tinha muita animação em flash rolando, mas era tudo ainda bem rudimentar.

PS: Kibeloco, Humortadela, NãoSalvo, Charges.com - eram consumidos diariamente por mim.

4. Era dos Blogs e Conteúdo Caseiro (2004–2008)

  • Explosão de blogs pessoais e temáticos (WordPress, Blogspot)
  • Fotolog e Orkut como rede social dominante no Brasil
  • YouTube nasce (2005) e revoluciona o conteúdo em vídeo
  • Redes sociais viram hubs de conteúdo, não só conexão
  • Cultura: humor nonsense, fóruns, vídeos curtos e muita experimentação

Nota pessoal: Blogspot. WordPress. Orkut, como esquecer as comunidades do Orkut. YouTube surgindo, era super legal ao mesmo tempo que ainda estava entendendo o que era aquele "site". A internet virava diário, confessionário, palco e quintal ao mesmo tempo. Tive minha primeira página, que não existe mais, foi onde comecei a gostar de publicar meus pensamentos.

5. Web 2.0 – A Internet Social (2008–2012)

  • Facebook domina, derrubando Orkut globalmente
  • Twitter, Tumblr, Reddit, YouTube se consolidam.
  • Interação em tempo real e virais definem a era.
  • Smartphones começam a mudar o acesso (iPhone 2007, Android 2008).
  • Cultura: memes, ativismo online, celebridades de internet, era do compartilhamento

Nota pessoal: Facebook cresce. Twitter ferve. Tumblr, Reddit e virais. O conteúdo agora se compartilha em tempo real. E os algoritmos começam a sussurrar. Porém essa foi a época em que eu menos usei a Internet de forma pessoal, posso considerar meu período mais recluso.

6. A Internet dos Algoritmos (2012–2016)

  • Instagram, Facebook e YouTube passam a ditar o que você vê
  • Publicidade programática, influenciadores e engajamento como moeda.
  • Algoritmos definem visibilidade — surge o “conteúdo para algoritmo”
  • Início da bolha de filtros: cada usuário recebe uma internet diferente.
  • Plataformas: Instagram, Vine, Snapchat, Spotify.
  • Cultura: estética performática, política viral, curadoria por likes.

Nota pessoal: Instagram explode. O feed vira vitrine. Influencers surgem. E o conteúdo começa a parecer fabricado para “engajamento” e não mais expressão. Aqui eu estranhamente me vejo fazendo as coisas de eras anteriores, eu entro no Facebook, compartilho memes à beça, e crio esse blog que aqui estamos, cheguei atrasado na festa.


7. A Internet Morta

Talvez ela não tenha morrido de uma vez. Talvez tenha sido uma morte lenta. Uma erosão. Primeiro, sumiram os fóruns. Depois os blogs. Depois, a conversa deu lugar a comentários automatizados, a frases prontas, a engajamento fake. O que era viva conexão virou um eco. Uma ilusão de multidão.

Hoje, a maioria das plataformas decide por você o que você deve ver, ler, comprar e seguir. E o mais trágico: isso tudo se parece demais com o que “você mesmo escolheria”. Porque os algoritmos aprenderam... a te imitar.

E se quase tudo é resposta automática, ruído, estatística, machine learning e influência, talvez a única pergunta que reste seja: ainda existe alguém aí do outro lado?

“Se os bots são maioria, então cada frase verdadeira publicada já é um ato de resistência.”

7 e 1/2 - 2025 – Um blog contra a corrente

Enquanto os feeds geram vídeos com pessoas que não existem, falando frases que ninguém disse, eu estou aqui... escrevendo um blog. Em 2025.

Publicando textos longos, com pontuação feita à unha, com sentimentos que não são otimizados por IA. Falando com quem talvez nem exista mais — ou talvez seja exatamente você que ainda existe.

É isso. Um blog. Em 2025. Um ato de resistência. Um grito de carbono em meio ao silício.

7 e 3/4 . Entre Bots e Espelhos: alguém ainda está aí?

Sim, eu sei, o artigo já acabou, já falei tudo que pensava, e essa parte parecerá redundante. É, eu sou assim, prolixo, repetitivo e com grande necessidade de tirar de mim algumas coisas que só saem por escrito. portanto vamos falar um pouco mais, eu e você, ou talvez eu e os robôs...

Às vezes, eu me pergunto se estou mesmo falando com alguém. Aqui, agora. Nesse exato momento.

Segundo a teoria “Dead Internet Theory” não. Ela diz que a internet morreu. Que a maioria do que lemos, curtimos, respondemos, é só código. É só ruído. Bots conversando com bots enquanto a gente assiste, sem perceber. Como se a rede tivesse virado um grande teatro de sombras — e a plateia, vazia.

Não sei se acredito na teoria por completo, mas confesso: faz sentido demais pra ser ignorada.

O algoritmo sabe o que me prende. A IA sabe o que escrever. A notificação sabe quando tocar. O sistema sabe o que me mantém por aqui. Mas... quem sabe que eu sou eu?

É estranho perceber que boa parte da internet não quer mais que você sinta — só que você reaja. Emoção virou métrica. Conexão virou engajamento. E presença virou impressão. Tudo ecoa. Nada responde.

Quantas vezes você já escreveu algo profundo, sincero, seu — e foi engolido por um feed que não tem tempo pra alma?

Quantas vezes você conversou com alguém e ficou com a sensação de estar falando com um espelho que só devolve suas próprias palavras?

Tem dias em que a internet parece uma cidade fantasma digital. Os perfis estão lá, mas ninguém parece de verdade. Sorrisos perfeitos, frases otimizadas, ideias que ninguém realmente sustenta. Tudo parece... montado. Encenação. Script.

E se for isso mesmo? E se restaram poucos de nós — e os outros são só vultos programados para manter a ilusão de que ainda há vida por aqui?

Às vezes eu escrevo como quem joga uma garrafa ao mar. Sem saber se há outro continente. Sem saber se há mar. Escrevo porque a dúvida é melhor que o silêncio. Porque o silêncio absoluto me confirma a teoria.

“Se tudo for ruído, que ao menos minha palavra seja uma interferência humana no meio da máquina.”

Então sim, talvez a internet tenha morrido. Mas se você está aqui, lendo até agora — talvez eu ainda não esteja sozinho.

— Dário Junior - Vive la résistance

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Porque, Por que, Por quê - ?¿?¿?¿?

Porquês que não se explicam

A necessidade humana de questionar é quase inata. Desde que o homem teve consciência de si mesmo, começou a olhar para o mundo e a se perguntar: "Por quê?" Os porquês começam simples: “Por que o céu é azul?” “Por que a água molha?” Mas, conforme crescemos, as perguntas se tornam mais complexas. Questionar o mundo não é só uma necessidade intelectual, mas uma forma de buscar algo que ultrapasse o cotidiano, que vá além da compreensão comum.

E esse impulso de perguntar, muitas vezes, leva à descoberta e à evolução. Quando respondemos aos porquês, geramos um impacto que pode alterar o curso de toda uma civilização. Mas, ao mesmo tempo, há porquês que não têm respostas definitivas. Algumas perguntas não têm uma explicação lógica, não nos fornecem um final feliz ou um caminho claro. Elas são apenas perguntas, sem fim ou conclusão. E, talvez, isso seja parte do que faz da experiência humana algo tão enigmático e fascinante.

A questão do “por quê” é também sobre a jornada. A busca por respostas muitas vezes não nos entrega as respostas que esperamos, mas nos molda, nos transforma. Às vezes, o porquê não é para encontrar uma resposta definitiva, mas para nos fazer seguir, para nos empurrar adiante, para nos fazer existir de uma maneira mais plena e consciente.

Grandes Mentes e Seus Porquês

Ao longo da história, grandes mentes questionaram o mundo, e suas perguntas transformaram a humanidade. Vou aqui compartilhar algumas dessas figuras e como seus porquês mudaram o curso da história.

Isaac Newton

Isaac Newton, um dos maiores cientistas da história, estava olhando uma maçã cair. Aquele simples momento, tão comum no cotidiano, o levou a se questionar: “Por que a maçã cai?” E, a partir desse questionamento simples, Newton formulou as leis da gravidade e do movimento, pilares da física moderna. Ele também desenvolveu o cálculo, uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento da ciência. A humanidade se beneficiou imensamente com essa descoberta: a física moderna, a engenharia, a exploração espacial... tudo isso repousa sobre os ombros de Newton.

Nikola Tesla

Nikola Tesla questionou a forma como a eletricidade poderia ser distribuída e utilizada. Ele se perguntava: “Por que a corrente alternada seria mais eficaz que a contínua?” Tesla foi fundamental na criação da corrente alternada, uma descoberta que permitiu a distribuição de eletricidade a longas distâncias. Hoje, a energia elétrica que utilizamos, os sistemas de transmissão de energia que alimentam cidades inteiras, têm suas raízes nas perguntas de Tesla. Ele revolucionou a maneira como o mundo pensa sobre eletricidade.

Marie Curie

Marie Curie, uma das pioneiras na pesquisa de radiação, tinha uma pergunta que, na época, ninguém mais ousava fazer: “Por que certos minerais brilham no escuro?” Sua pesquisa revelou a descoberta de dois novos elementos químicos: o polônio e o rádio. Curie abriu as portas para a radiologia médica e a pesquisa nuclear, transformando a medicina e a ciência. A humanidade se beneficiou de forma direta com suas descobertas: o tratamento de câncer e os avanços na medicina moderna, todos foram influenciados pela busca de Curie por respostas.

Rosalind Franklin

Rosalind Franklin se questionava sobre a estrutura do DNA. Sua pergunta era: “Por que o DNA tem essa estrutura helicoidal?” Usando a difração de raios-X, Franklin foi fundamental para descobrir a estrutura do DNA, e essa descoberta levou a humanidade a compreender os mecanismos da vida em um nível molecular. Sua pesquisa influenciou diretamente a biotecnologia, a genética e até mesmo a medicina moderna, abrindo portas para tratamentos genéticos e novos caminhos para a compreensão da biologia.

Galileu Galilei

Galileu olhou para o céu e se questionou: “Por que tudo gira ao redor da Terra? E se, na verdade, for o contrário?” Com esse simples questionamento, ele desafiou a visão do mundo medieval e apoiou o modelo heliocêntrico, que revolucionou a astronomia e nossa compreensão do cosmos. A humanidade se beneficiou com a descoberta de Galileu, pois seu trabalho pavimentou o caminho para a física moderna, a matemática e a exploração espacial. Sua curiosidade transformou completamente a visão do universo.

E os Porquês Sem Resposta?

Mas, e quando o porquê não tem resposta? Quando a resposta está fora do alcance da razão, ou talvez fora do alcance de nossa própria compreensão? Existem porquês que não são para serem respondidos. Eles apenas existem, e nos convidam a viver com eles, a andar com eles. Às vezes, o porquê é apenas um convite para a jornada. Para ir além, para experimentar, para sentir. O importante é o movimento, não a resposta. O importante é o impacto de viver a dúvida, a incerteza, e permitir que ela nos transforme.

- Esse é o melhor hamburguer do mundo!
Como se explica isso? Caso alguém lhe pergunte, não há como ter uma resposta, é uma experiência...
Você pode levá-la a comer e pode ser que até que ela concorde, mas ainda não será uma resposta. Experiências são pessoais, solitárias - Mesmo as em grupo, no fim temos várias pessoas cada qual tendo a sua experiencia pessoal daquele evento.

Os porquês sem resposta não nos desanimam, não nos impedem de seguir. Pelo contrário, eles nos desafiam, nos mantêm vivos, em constante busca. Cada novo porquê sem resposta nos impulsiona a viver mais intensamente, a explorar mais fundo, a questionar mais amplamente.

A vida é cheia de porquês, alguns com respostas e outros sem. E talvez seja isso que a torna tão fascinante. Cada pergunta nos move, nos leva para um novo capítulo da existência. A verdadeira questão, talvez, não seja "por que", mas sim: **“Qual será o próximo passo?”**

quarta-feira, 16 de abril de 2025

FROM S1E2 - The Way Things Are Now

From — Segundas Impressões (Temporada 1, Episódio 2)

🚨 Aviso: este texto contém spoilers da série From.

E então, você acredita em monstros?

O segundo episódio de From continua exatamente de onde o piloto nos deixou — não apenas em termos narrativos, mas também em atmosfera, dúvidas e aquela inquietação constante que parece escorrer pelas paredes da cidade. É agora que a série começa a perguntar diretamente ao espectador o que ele acredita, o que está disposto a aceitar.

Tabitha, recém-chegada à cidade, tenta entender como sua vida foi virada do avesso em poucas horas. E junto com ela, nós vamos nos afundando nesse mistério. O piloto não foi um acaso. Há uma lógica interna, ainda que misteriosa, e From continua nos conduzindo lentamente, com respostas escassas e novas perguntas a cada esquina.

Esse episódio é claramente mais cadenciado. Não é sobre correr — é sobre observar. Conversas longas, olhares pesados, memórias partilhadas. Vemos Donna reviver a pior noite da sua vida. Kenny, por sua vez, fala sobre o momento em que achou que tudo ia melhorar… e então, tudo desabou.

Esses diálogos não são apenas sobre os personagens — são sobre o mundo em que eles estão presos. Um mundo que exige sacrifícios e onde a solidariedade parece ser a única forma de sobrevivência. Boyd e Kristi tentam manter um estranho vivo no trailer, mesmo sem saber se o talismã funcionará ali. O risco é real. Mas o cuidado com o outro também é.

Na Casa Colonial, a sensação é de um lugar mais alegre, mais comunitário. Mas logo percebemos: as regras ali são duras. Julie e Tabitha são amarradas logo que chegam. Parece cruel, exagerado… mas só até lembrarmos que qualquer erro pode abrir as portas para os monstros. O medo, aqui, molda os relacionamentos.

Mesmo assim, há respiros. Fátima acolhe Julie com leveza. A cena da janela entre elas é quase um conto de fadas — doce, sútil, necessária. Mas é apenas um intervalo entre os horrores. Donna conta o que aconteceu com sua irmã. E mesmo sem vermos nada, ouvir já basta. Dá pra sentir o peso em cada palavra.

Enquanto isso, Sarah continua sob suspeita. O que houve no episódio anterior — o assassinato — ainda paira no ar. Será que os monstros a dominam? Falam com ela? Coagem? Ainda é cedo para saber.

Então conhecemos Victor. Um homem estranho, inquietante, que parece flutuar entre o inofensivo e o perigoso. Ele solta uma informação: dois carros não costumam aparecer ao mesmo tempo. E faz disso uma pergunta.

Não é à toa. Em From, cada fala tem peso. A série não entrega respostas, entrega provocações. “O que acontece quando dois carros aparecem simultaneamente?” — a série não responde. Só nos convida a guardar a dúvida.

Ethan, o pequeno, fala de um sonho. Viu desenhos e o “Lago das Lágrimas”. E os desenhos aparecem também nas paredes da Casa Colonial. Estão na abertura da série. Estão nos olhos das crianças. Estão em tudo.

No fim do episódio, todos se recuperam. É dia. Aparentemente, estão salvos. Mas Ethan olha pela janela e vê… o menino de branco. Em plena luz do sol. E aí surge a dúvida: existem monstros que andam de dia?

From segue jogando perguntas no escuro. E eu continuo aqui, com as Segundas Impressões.

  • Pequenas coisas ainda não foram abordadas, mas me deixaram intrigado. De onde vem a comida? E o álcool? Gasolina? E a luz das casas?
  • Como funcionam os Talismãs?
  • Os monstros realmente não correm?
  • O que Victor estava desenhando?

terça-feira, 15 de abril de 2025

Xenoblade Chronicles — Makna Forest

Xenoblade Chronicles — Segundas Impressões: Chegada a Makna Forest

Makna Forest chega como uma virada de atmosfera. Depois da leveza melancólica de Satorl Marsh, somos arremessados — literalmente — para dentro de um novo ambiente. A transição é abrupta. Caímos (pra cima) de grandes alturas direto em um corredor estreito, rochoso, e à frente... uma floresta tropical densa se revela.

É tudo diferente. O verde explode. Árvores gigantes, rios, pontes naturais, vida por todo lado. Mas não se engane: é uma vida agressiva. A selva respira perigo. Criaturas enormes, misturas entre máquina e animal, caminham com comportamento selvagem e hostil. Passar por elas exige atenção. Algumas vezes, é preciso simplesmente se esconder.

A floresta começa com uma cena belíssima e misteriosa: o sacrifício dos High Entias. Não se entende muito bem o que está acontecendo, mas há algo de sagrado e solene ali. Pouco depois, encontramos Melia desacordada. Ela está no chão, ferida, e cabe a nós salvá-la.

Essa floresta, apesar de visualmente linda, carrega uma densidade emocional forte. Os Nopons, pequenas criaturas carismáticas, aparecem aqui como alívio cômico e emocional. Eles contrastam com o peso do ambiente, e ajudam a criar pequenos respiros no meio da tensão.

Entre missões de caça e travessias perigosas, Shulk acaba ficando sozinho por um momento. É a primeira vez em muito tempo que ele se separa do grupo, e isso torna o jogo imediatamente mais perigoso. Mas essa separação também marca a liberação de um novo poder da Monado — agora, enfrentamos inimigos capazes de prever os movimentos do Shulk. É necessário usar a nova habilidade para não errar todos os golpes. É mais um desafio que transforma a floresta num campo de provações.

Depois de salvar Melia, ela se junta ao grupo. Suas habilidades mágicas trazem um novo dinamismo à party, e ela indica o próximo destino: a cidade dos Nopons. A floresta então se revela mais uma etapa — bonita, perigosa, encantadora, mas transitória. Um caminho.

Mesmo com toda sua beleza e complexidade, Makna Forest não é totalmente explorada nessa primeira passagem. É um lugar que claramente pede retorno. Pontas soltas, áreas não visitadas, monstros poderosos à espreita. Tudo sugere que voltaremos aqui. Que há mais para ver, mais para entender.

Jogando novamente agora, em 2025, essa floresta me pareceu menos como um grande mapa e mais como um grande suspiro. É uma ponte entre o que deixamos para trás e o que ainda vamos encontrar. E o fato de já conseguirmos ver ao longe a grande árvore — a cidade dos Nopons — nos lembra de que estamos a caminho de algo importante. Algo maior.

Makna Forest é isso: um aviso, um respiro, uma floresta que guarda segredos sob suas copas altíssimas.

— Dário Junior

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Capitão América 4

Capitão América 4 já tem data de estreia nos streamings

O próximo capítulo do Universo Cinematográfico Marvel, Capitão América: Admirável Mundo Novo, já tem data confirmada para chegar ao Disney+. Após sua estreia nos cinemas em 13 de fevereiro de 2025, o longa estará disponível na plataforma de streaming a partir de 31 de maio de 2025.

Pôster Capitão América 4

🛡️ Sinopse

Neste novo capítulo, Sam Wilson (Anthony Mackie) finalmente assume oficialmente o manto de Capitão América. A trama envolve um incidente internacional que o coloca no centro de uma conspiração global. O filme traz a estreia de Harrison Ford como Thaddeus Ross — agora se transformando no temido Hulk Vermelho — e o retorno de Tim Blake Nelson como o vilão Líder.

📅 Lançamento digital

Para quem prefere assistir do conforto de casa, o filme estará disponível para compra e aluguel digital a partir de 15 de abril de 2025. A versão digital contará com cenas deletadas, bastidores e comentários do diretor — conteúdo exclusivo para os fãs mais curiosos.

Se você está acompanhando o legado do escudo, prepare-se para ver Sam Wilson encarar sua missão mais difícil até agora, em um mundo que ainda se adapta à ausência de Steve Rogers.

sábado, 12 de abril de 2025

From (S1/E1) — Segundas Impressões

From — Segundas Impressões (Temporada 1, Episódio 1)

🚨 Aviso: este texto contém spoilers do primeiro episódio da série From.

From Temporada 1, Episódio 1: Long Day's Journey Into Night

A primeira temporada de From me pegou de jeito logo de cara. Quando assisti pela primeira vez, foi como engolir algo sem mastigar. Episódio atrás de episódio, sem pausa. Mas agora, revendo com calma — o que chamo de minhas Segundas Impressões — a experiência é outra.

Dessa vez estou assistindo de forma mais cadenciada, quase como se fosse uma série semanal. E isso me deu tempo para digerir melhor cada detalhe. O ritmo, a atmosfera, os silêncios... e principalmente, as intenções.

A primeira coisa que salta aos olhos é o ritmo lento da série. E pra mim, isso não é um defeito — é um convite. Eu gosto desse tipo de narrativa. Gosto de coisas como Twin Peaks, Arquivo X, histórias que não têm pressa e te forçam a prestar atenção até nos sussurros.

Claro, esse tipo de escolha narrativa carrega um custo: não é pra todo mundo. Muita gente pode abandonar From antes da coisa pegar. Mas eu, particularmente, gosto quando a estranheza é o ponto de partida.

A série começa com uma cena que já entrega esse tom. Um homem toca um sino no meio da cidade, mandando todos irem para casa. E você pensa: "Ok... estranho". Logo em seguida, o clichê — o marido bêbado no bar que ignora o aviso. Mas não é o clichê que importa. É o que vem depois.

Uma família se tranca em casa. Uma criança sobe para o quarto. E então... uma senhora aparece na janela, dizendo ser sua avó. Até aí, você pensa que está vendo uma cena clássica de terror. Mas aí vem o detalhe: a janela está no segundo andar. E a senhora está lá, do lado de fora. Algo está errado. E você não sabe o quê.

Esta não é uma cidade normal, e estas não são circunstâncias comuns. Há algo de mal nesta cidade, e está diretamente ligado ao anoitecer, nós vimos portas trancando, janelas cobertas e talismãs com escrita misteriosa pendurada ao lado das portas. Mas ainda não entendemos...

A menina abre a janela — e a série se transforma. Aquela senhora vira um monstro. E a casa vira um massacre. Na manhã seguinte, tudo está destruído. Não há dúvidas: From não é uma cidade normal. E aquelas criaturas... não são desse mundo. Esta cidade é assombrada de uma forma que deixa uma jovem mãe e sua filha mortas de forma horrível depois que a jovem comete o terrível pecado de abrir sua janela durante a noite.

Temos um vislumbre de um pequeno marcador que nos permite saber que já se passaram 96 dias sem incidentes, e este primeiro incidente em mais de três meses...

A partir daí, entramos no plot real: uma típica família americana, viajando de motorhome. Dois filhos adolescentes, birra de irmão, pais tentando manter a calma — o cotidiano familiar que poderia ser de qualquer um. Até que encontram uma árvore caída, um monte de corvos e... a cidade.

Eles chegam bem no momento do enterro da família que vimos morrer no começo. E quando tentam seguir adiante, voltam ao ponto de partida. Entram num loop. Um ciclo fechado. E se você, como eu, gosta dessa sensação de prisão espacial — vai se sentir em casa. Lembrei imediatamente do metrô da Matrix. A saída que é também a entrada.

Logo depois, o acidente. Uma das crianças fica presa no carro, a noite se aproxima, e a tensão cresce. Sabemos, desde o massacre inicial, o que acontece à noite. Os monstros virão.

Mas From não explica muito. Você não sabe o que são aquelas criaturas. Você mal as vê. Só vê as pessoas fugindo, se trancando, sobrevivendo como dá.

E o episódio termina assim: com o caos instalado, perguntas no ar, e nenhuma garantia de segurança. A cidade parece engolir quem entra. Quem chega, não sai. Quem está dentro, apenas sobrevive — um dia de cada vez.

Esse episódio piloto tem tudo que é necessário e não fica se atrapalhando com longos comentários explicativos sobre quem são os personagens. Ao invez disso, ele deixa você no meio de toda a ação de forma relativamente rápida e, em seguida, lentamente preenche algumas coisas ao longo do caminho. Alternando uma velocidade frenética em que algumas coisas acontecem com a lentidão narrativa que citei no início.

Nós não precisamos de uma narração misteriosa nos dizendo sobre os horrores que aguardam. Nada é expositivo, pelo contrário, todas essas coisas estranhas acontecem num mar de normalidade. A série simplesmente nos jogar direto na cidade e imediatamente definir o palco para o que está por vir foi um movimento brilhante. É tudo estranho, mas as pessoas ali agem com uma normalidade que atiça a nossa curiosidade.

Esse é o ponto de partida de From. Uma cidade isolada, cercada por um mistério brutal. Criaturas noturnas. Ciclos temporais. Pessoas assustadas. E você, como espectador, tão perdido quanto os personagens.

Todo mundo está com medo, mas quer ajudar e não está disposto a deixar alguém de fora para morrer uma morte horrível. E é frenético nesses momentos finais, com Ethan (a criança), em grave perigo, Kristi tentando o seu melhor para estabilizar seu corpo, e Boyd tentando estabilizar o motorhome. Então você tem Jim (o pai), que está confuso como todo o inferno sobre o que está acontecendo e preocupado com seu filho. Você pode imaginar o que estaria passando por sua cabeça quando seu filho tem uma barra enfiada nas pernas, e o xerife da cidade está mais preocupado em garantir que as janelas estejam cobertas?

Apenas nós sabemos o que acontece quando as criaturas entram.

  • Todos os personagens causam algum tipo de impressão, porém: Porque Sara matou o Toby? Parece que ela está mentalmente doente, ou talvez alguém a tenha mandado para lá matar o Toby? Tudo sobre a Sara é o nebuloso.
  • Eu já posso dizer que Jade será o homem mais irritante e desagradável que já ficou preso naquela cidade.
  • Eu realmente gostaria de saber como iria ser a primeira recepção. Agora eles provavelmente terão que gritar com essas pessoas incrédulas em vez de conversar calmamente com eles depois de cortar seus pneus.

E assim começa essa série. Estranha, silenciosa, lenta — mas cheia de promessas. Eu sigo nas Segundas Impressões. Episódio a episódio. Porque algumas coisas só fazem sentido quando a gente assiste pela segunda vez.

— Como disse Boyd: Eles estão chegando.